12 de março de 2025

A comunicação tem outro papel essencial: a cura da alma!

“Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para melhor.”
Winston Churchill

Uma densa nuvem estacionou sobre nossas cabeças. Dificulta a entrada de luz e a dispersão do calor. Assim temos vivido. Esta é a impressão ao olhar os derradeiros tempos no Brasil e no mundo.

Há um baixo-astral generalizado se alastrando sem freio, alterando o comportamento das pessoas, cada dia mais penduradas nos seus aparelhos grudados na palma da mão, ao alcance de toda sorte de interesses nem sempre declarados de pequenos grupos ou de indivíduos. Muitos deles, desejosos de se locupletarem por meio deste estado de espírito manipulador a bem dos próprios bolsos ou de outros interesses, mas no geral é um grande mal, que afeta o conjunto da vida e dos negócios.

A velocidade com que as informações circulam entre nós e a quantidade delas que nos alcança é impressionante e massacrante. Acrescente-se a isso um ponto fundamental: podem ser notícias verdadeiras ou mentiras. Enquanto você vai checar uma, quatro ou cinco novas chegaram e você já esqueceu a primeira.

Tudo isso afeta em cheio o universo da comunicação. Ela é o cerne da questão.

Agora veja as notícias do Brasil. E não vai aqui qualquer defesa de governo nenhum, partido, ideologia. Não é o caso, nem o foro. Apenas observe com isenção. Há índices bastante sólidos, conquistas importantes, mas as notícias, em geral, não condizem com esta realidade. Por outro lado, temos um déficit público crescendo de forma galopante e há quem afirme que a “ressaca já está contratada para 2026/2027”.  Enfim, uma briga de fontes, uma profusão de análises e pesquisas pagas (de ambos os lados do espectro) pelo resultado desejado ou equivocadas ou distorcidas. Vivemos um perverso jogo de interesses por poder, dinheiro ou outras vantagens ou finalidades. Mais nada importa. Hoje o ceticismo é condição sine qua non.

Assim, a mesma comunicação que espalha o ódio, o mal-estar, a desesperança, o descrédito, este baixo-astral que contamina nossos dias com conta-gotas, é a comunicação que conversa, argumenta, fala a verdade, explica, esclarece, que desarma a regra da má notícia, do ódio pelo ódio, do destruir pelo destruir, a torcida contra. E muitas vezes neutraliza o fogo permanentemente sendo ateado ao circo para meia dúzia atingir objetivos escusos ou ganhar uns dinheiros a mais.

Precisamos inocular este antídoto para salvar nossas vidas, nosso país, nossa cidade, o mundo, nossa rua. Ou seja, a mesma comunicação que produz o mal pode produzir a cura.

Há no mundo uma polarização política entre direita e esquerda e seus extremos. O mundo neste momento parece tender à direita, o que estabelece certa tensão e paixões mais exaltadas. E o ciclo da história se repete: cultura X contracultura e la nave va

Essa disputa, muitas vezes apaixonada, exagerada, tem provocado um desequilíbrio, que faz mal aos homens comuns, que perdem seus referenciais.

Estamos vendo tradicionais veículos emitiram opiniões, defenderem posições A ou B, esquecendo no fundo das gavetas seus Manuais de Redação. A ética hoje virou artigo de luxo e a desinformação uma estratégia. Beira o inacreditável e a situação é muito complicada.

Eu andava pensando nessas coisas, confesso que um pouco descrente, chateado com os problemas que já estão criando para a organização e a realização da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, em Belém, no Pará, de 10 a 21 de novembro de 2025. Semana passada fui almoçar com um amigo, conversa boa, concordamos que é possível reverter o sinal negativo para positivo por meio da comunicação. Curiosamente, na volta, parado no trânsito, ouvi Lulu Santos. Parecia que me trazendo uma resposta na sua linda e poderosa canção “A Cura”, de 1988:

“Existirá, em todo porto tremulará
A velha bandeira da vida
Acenderá, todo farol iluminará
Uma ponta de esperança
E se virá, será quando menos se esperar
Da onde ninguém imagina
Demolirá toda certeza vã
Não sobrará pedra sobre pedra
Enquanto isso, não nos custa insistir
Na questão do desejo, não deixar se extinguir
Desafiando de vez a noção
Na qual se crê que o inferno é aqui
Existirá
E toda raça então experimentará
Para todo mal, a cura…”

Lulu Santos fez um hino de esperança e otimismo, falando sobre a possibilidade de superação e renovação. O refrão “Existirá e toda raça então experimentará para todo mal, a cura” traz uma mensagem universal de cura e de superação de obstáculos, independentemente das diferenças entre as pessoas. É uma linda canção.

E eu percebi naquele momento mais um nobre papel da comunicação: a cura da alma. Sei que por meio da comunicação inteligente podemos melhorar o ambiente no qual vivemos e podemos fazer isso juntos. Gradativamente! Vamos a isso?

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Carlos Parente

Graduado em Administração de Empresas pela UFBA, com MBA em Marketing pela FEA USP, possui um sólido histórico de experiência em Relações Institucionais & Governamentais, Comunicação Corporativa e Advocacy, com participações e lideranças em processos de comunicação estratégica, inclusive internacionais. Carlos Parente é sócio-diretor da Midfield Consulting.

  • COMPARTILHAR: