Think Tank COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL · EDIÇÃO 109 · 2022

O tempo do slow content

O TEMPO DO SLOW CONTENT

Diante da aceleração da digitalização do dia a dia por causa da pandemia, o slow content surgiu para tornar o conteúdo mais profundo e criativo e desacelerar a rotina. Adolfo Corujo, sócio e Chief Strategy and Innovation Office da LLYC, e Luciana Coen, diretora de Comunicação Integrada e Responsabilidade Social Corporativa da SAP Brasil, conversam sobre seus usos e vantagens

Surgimento

Luciana Coen

Importante e atual, esse tema do slow content está conectado com a questão da saúde mental. Algumas pesquisas mostram números impressionantes da quantidade de dados e informações a que todos estão submetidos. Em média, uma pessoa assiste a 500 horas de vídeo no YouTube e a mais de 400 milhões de minutos no Netflix, fora reuniões online, mensagens nas redes sociais e informações em sites. É uma avalanche em um mundo onde tudo é rápido e conectado. A crise sanitária fez com que as pessoas vivessem ainda mais em um mundo digital, o que piorou a situação da saúde mental. Em 2020, quando o momento era de incerteza total, o conceito de slow content, baseado em movimentos como o slow food, começou a ganhar força como forma de desacelerar a rotina dos funcionários e de alcançar um equilíbrio.

Adolfo Corujo

Hoje o mercado laboral dos Estados Unidos está passando pelo que eles chamam de “the great resignation”: muitos profissionais, impulsionados pela pandemia, pedem demissão com o objetivo de buscar um novo estilo de vida. Os líderes também mudaram de mentalidade e agora têm de reagir para garantir a permanência dos trabalhadores. Nesse processo, vêm descobrindo que a melhor maneira de conseguir isso é ouvir. A comunicação interna precisa acontecer nos dois sentidos, com a missão de entender por que esses profissionais, que são muito importantes para as empresas, querem ir embora. E esse processo de ouvir está conectado com a necessidade de criar conteúdos com a filosofia do slow content, porque ela é capaz de responder com estruturas e narrativas que realmente criam conexões verdadeiras e estabelecem um diálogo produtivo com essas pessoas. Essa mudança provavelmente já era necessária alguns anos atrás, mas ninguém percebeu

Cocriação de conteúdo

Luciana Coen

As empresas precisam criar conteúdo para ser um centro de referência no sentido de trazer conscientização ambiental, dos pilares ESG e em outros pontos, pelo menos para seus colaboradores. A SAP criou, com 50 funcionários, uma plataforma chamada Circular – que tem a ver com circular a informação e com a economia circular –, que fala de temas com propósito: saúde mental, física, diversidade, inclusão, voluntariado. Essa informação chegou aos funcionários em formato slow content, artigos, matérias e vídeos longos, como funcionários cozinhando enquanto conversavam sobre assuntos relevantes e trocavam ideias. Foram mais de 6 mil acessos em seis meses. Parar para assistir a um conteúdo com propósito também é prioridade. O mundo tem espaço para os dois modelos.

Adolfo Corujo

As companhias precisam de conteúdo próprio para contar sua visão, seus valores e seus propósitos. Na pandemia, tornaram-se mais conscientes de que devem ter atitudes cidadãs e atuar sobre os desafios de seus stakeholders. Sua reputação não depende do que elas falam, mas do que respondem e como reagem. As narrativas também servem para estabelecer relacionamentos de longo prazo com os públicos. Com a pandemia, as pessoas passaram a procurar conteúdos de maior qualidade. E a cocriação gera conteúdos interessantes porque é feita pelos protagonistas. A marca em si não é interessante; as histórias dos protagonistas são.

Informação com sentido

Luciana Coen

Na contramão do que se achava, existe espaço para esses conteúdos mais longos e profundos, que misturam informação com um viés jornalístico e um tanto de entretenimento. É preciso saber entreter para além da informação em vários formatos a fim de despertar nas pessoas o prazer de consumir aquele conteúdo

Adolfo Corujo

Todo conteúdo de qualidade tem que ter entretenimento e ser informativo, mas com capacidade de conectar emocionalmente. Os melhores exemplos são aqueles em que o conteúdo traz essa conexão sem deixar de falar dos assuntos que interessam à empresa. E fazer direito. Os podcasts, por exemplo, entraram na moda, e as companhias começaram a produzir. Mas, no início, eram ruins. E elas aprenderam que a concorrência é grande, e o conteúdo precisa ser estimulante e divertido, não só informativo.

Foco no usuário

Luciana Coen

As empresas têm uma responsabilidade de entrega de conteúdo engajador e uma influência e conscientização em relação aos funcionários. Não adianta colocar o conteúdo com a informação que precisa ser passada se as pessoas não vão consumir. Além disso, as companhias também podem aproveitar para usar as ferramentas digitais e a produção de conteúdo engajador para trabalhar esse importante tema da saúde mental.

Adolfo Corujo

O mundo está vivendo uma revolução enorme com a inteligência artificial e o machine learning. Eles não vão substituir o modelo de comunicação, mas vão torná-lo mais rico, com mais capacidade de conectar as pessoas. Hoje, analisando e inter-relacionando a grande quantidade de dados disponível, é possível gerar conteúdos de maior qualidade e mais capacidade de influência. O negócio é tirar proveito do que a tecnologia oferece.

 
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