Dossiê COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL · EDIÇÃO 108 · 2021

Hubs do amanhã

HUBS DO
AMANHÃ

Eles reúnem investidores e startups ávidas em colocar suas ideias em prática. Agora as empresas começam a criar seu próprio espaço para desenvolver a cultura de inovação e achar parceiros que dialoguem com seus interesses

Por: Caio Barretto Briso e Clarice Tenório Barretto

Pontos de encontro de startups, empresas, investidores, universidades, governos e terceiro setor, os hubs de inovação articulam todos esses players em um só lugar. Se antes a presença física era essencial para reunir esses públicos, hoje os hubs encontraram uma forma híbrida de colaboração que deve ser mantida no cenário pós-pandemia. Não que o trabalho fosse totalmente presencial para esta geração de profissionais, mas eles precisaram se adaptar às necessidades de uma nova época – um tempo de crise e oportunidade que está mudando o mundo para sempre.

CEOs já perceberam que esses negócios em desenvolvimento podem gerar muito lucro para quem acredita neles no início

Em vez de buscar soluções inovadoras dentro de casa, gestores já entendiam que o melhor a fazer era ir atrás de quem estava pensando em seu problema antes mesmo de ele surgir. Essa convicção se tornou mais forte com a pandemia, e não há lugar melhor para achar esses profissionais do que nos hubs. Eles reúnem empresas de tecnologia e mentes ávidas por clientes e investimentos para colocar suas ideias em prática. Trabalham para criar soluções, resolver questões operacionais e investir em projetos em desenvolvimento.

“Compramos uma startup de logística, a ASAP Log, que ficou sediada no hub Cubo Itaú. Ela trouxe uma solução de entrega rápida que provavelmente demoraríamos dois anos para criar internamente”, afirma Hélio Muniz, diretor de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais da Via, maior empresa de varejo de eletroeletrônicos e móveis do Brasil, responsável pelas redes Casas Bahia e Pontofrio. Em novembro de 2020, a Via se tornou sócia do hub Distrito, que possui dois espaços físicos em São Paulo e um em Curitiba. “É uma forma de estarmos dentro desse ambiente inovador e transitar rapidamente nesse mundo de soluções como parceiros do maior hub de inovação do país”, justifica Muniz.

O que se vê hoje são empresas criando seus próprios hubs para desenvolver a cultura de inovação na corporação e atrair startups que dialoguem com seus interesses. CEOs já perceberam que esses negócios em desenvolvimento podem gerar muito lucro para quem acredita neles no início, comprando ações na operação chamada Corporate Venture Capital (CVC) – 99 App, Quinto Andar, Nubank, iFood e MadeiraMadeira são exemplos de companhias de sucesso que nasceram como startups.

“Sou a ‘olheira’ do Wayra para as startups”, brinca Carolina Morandini, head de Investimento em Startups e Gestão de Portfólio na Wayra Brasil, o hub de inovação da Vivo, que já investiu em 82 empresas no país. “Estamos de olho nas oportunidades do mercado. Queremos gerar receitas com as aquisições, criar novos negócios e desenvolver soluções para eficiência operacional da Telefônica no mundo”, explica.

Todos os chefes desses espaços de inovação afirmam que, apesar do susto inicial, o fortalecimento do modelo online trouxe mais oportunidades para que quem estava longe fisicamente participasse dessa conexão, além de ter acelerado a corrida por soluções digitais para problemas trazidos pelo lockdown das cidades brasileiras.

“O céu é o limite para os hubs. A pandemia trouxe os encontros digitais, tornando fácil criar ou se conectar a um hub em qualquer lugar, com grande diversidade de pessoas e projetos. Os ecossistemas de inovação receberam novas startups e empresas em busca de soluções para seus investimentos. Em um momento póspandemia, a insubstituível conexão dos encontros presenciais voltará a acontecer nos hubs, mas de forma híbrida, fortalecida pelos avanços gerados com a crise”, afirma Carla Knoplech, fundadora da agência Forrest Conteúdo & Influência, professora de conteúdo digital e colunista da Veja Rio.

LIFEHUB | BAYER

Multinacional alemã com 125 anos de atuação no Brasil, a Bayer inaugurou durante a pandemia, em novembro de 2020, o LifeHub São Paulo. É o oitavo hub de inovação da empresa no mundo e o primeiro na América Latina. Com atuação na indústria farmacêutica, em saúde do consumidor e no agronegócio, os hubs fazem parte de uma estratégia global para estreitar relações com startups e investir em programas de intraempreendedorismo. “O LifeHub é um conceito que nasce com a cultura colaborativa da Bayer. Temos hoje no Brasil 70 colaboradores dedicados ao hub. Embora continuem atentos às suas áreas na empresa, eles utilizam 20% de seu tempo de trabalho em projetos e construção de estratégias em uma equipe de inovação”, explica Fernanda Eduardo, gerente de Inovação Aberta e Transformação Digital.

Na Bayer, a pandemia impulsionou o processo de transformação digital que já existia na empresa. Um lançamento de produtos online em 2020 reuniu 5 mil médicos, algo nunca imaginado para um evento presencial. “Temos muito claro que o espaço físico é importante, mas não é mais decisivo. Queremos aproveitá-lo, trazer experiências e conteúdos ao vivo para colaboradores e clientes. No LifeHub São Paulo, disponibilizamos 40 estações de trabalho para startups, temos auditório, mas já entendemos que no mundo virtual conseguimos reunir mais gente de todos os lugares que não poderia vir até aqui”, afirma Fernanda.

A área de Comunicação está inserida na estratégia do hub, segundo a gerente. Ela ajuda a criar e fortalecer a marca, divulgar as ações interna e externamente, além de pensar na melhor maneira de integrar todos os envolvidos. “A transformação cultural na empresa precisa ser construída com a comunicação, com olhar estratégico para os nossos desafios. Como nossas ações chegarão ao agente ideal dentro do ecossistema? Hoje não temos um grande número de startups no hub; vamos a outros espaços convidar esses parceiros. Precisamos de todo o conhecimento da Comunicação para chegar da maneira certa, aos locais exatos, no momento ideal. Quero a Comunicação ao meu lado sempre.”

Na Bayer, a pandemia impulsionou o processo de transformação digital que já existia na empresa

HUB BANCO DO NORDESTE

Agricultores da Bahia tiveram de jogar fora leite estragado por não conseguirem escoar sua produção de laticínios com o início da pandemia, no primeiro semestre de 2020. A startup EscoAF, incubada pelo hub de inovação Banco do Nordeste, acelerou seu projeto de vendas online de produtos de agricultura familiar e conseguiu reverter quadros semelhantes. O banco, que abrigava a empresa em seu hub de Salvador, conectou os sócios da startup à Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia e às cooperativas de agricultores familiares.

Para a publicitária Susana Calmon, CEO e cofundadora da EscoAF, estar no hub de inovação fez com que ela chegasse às instituições certas quando agricultores precisavam de uma solução: “Esse grupo de agricultores é bem tradicional; seus momentos de maior venda eram as feiras. Com a pandemia, a entrada no ambiente online foi essencial para eles. Estar ao lado do Hub Banco do Nordeste nos possibilitou oferecer nosso serviço, que leva o pro duto da agricultura familiar ao consumidor final”.

Gerente do hub de inovação Banco do Nordeste – que possui espaços em Recife e Fortaleza, além de Salvador –, Lina Salles explica que a startup não foi contemplada com nenhum incentivo financeiro do banco, mas com a possibilidade de estar em um dos três hubs de inovação da inst ituição, que oferecem apoio para 30 startups por vez com 90 estações de trabalho nas três cidades.
Empresas públicas, como o Banco do Nordeste, também já entenderam que sem inovação não é possível acompanhar o mercado. Lina conta que mesmo com todos os entraves burocráticos e respeitando todas as leis e a transparência, a instituição hoje tem quatro eixos de apoio a startups e empresas de inovação: crédito, edital de incentivo à pesquisa em inovação, Corporate Venture Capital (no caso do banco, compram as ações por meio de parceria com o BNDES) e disponibilização dos espaços de coworking com mentoria de profissionais do banco.

“Temos espaços para startups, capacitação, compartilhamento de ideias e transformação de negócios. Por sermos um banco público de desenvolvimento, nos mesmos moldes do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ], todos os nossos processos são por meio de editais”, explica Lina.

Empresas públicas já perceberam que sem inovação não é possível acompanhar o mercado

WAYRA BRASIL | VIVO

A Wayra Brasil é o hub de inovação aberta da Vivo no país e outro exemplo de como grandes empresas perceberam que se associar a startups é um caminho promissor para inovar e criar novas oportunidades de negócios. No Brasil desde 2012 como aceleradora de empresas de tecnologia, há três anos a Wayra se tornou um hub que apoia startups e faz negócios com elas, comprando ações no investimento Corporate Venture Capital. “Já investimos em 82 empresas. No momento, temos cerca de 35 em nosso portfólio. Dessas, 45% fazem negócios com a Vivo”, detalha Carolina Morandini.

Responsável pela gestão das startups e pela busca por oportunidades de investimento e negócios com a Telefônica e outras grandes empresas, Carolina explica que o interesse é trazer o maior número de empreendedores para gerar novas receitas, criar negócios e aumentar a eficiência operacional. “Por isso brinco que sou a ‘olheira’ do time: recebemos inscrições em nosso site, lançamos desafios de inovação e buscamos no mercado e em outros hubs startups que interessem aos nossos negócios”, diz.

A Wayra utiliza o espaço de coworking do hub Cubo, em São Paulo. Não ter uma sede própria é uma estratégia para maior integração com outros parceiros em um ambiente completo de inovação, além de criar uma vitrine de produtos e soluções da Vivo para outras startups vizinhas. Com a pandemia, os encontros presenciais foram interrompidos, mas Carolina conta que as ações ganharam escala virtualmente. “O olho no olho é importante para estreitar relações. As pessoas lembram muito mais do outro quando se encontram ao vivo. Mas hoje somos capazes de conectar mais pessoas e de diferentes lugares. Passaremos a mesclar o trabalho e os encontros para uma realidade híbrida com o melhor de cada uma.”

Entre as jovens empresas que passaram pela Wayra nos últimos anos, Carolina cita três parceiras consolidadas no mercado com soluções operacionais para a Vivo. A Voll, startup de tecnologia para gestão de mobilidade e de viagens corporativas, ajuda gestores a economizar e otimizar o transporte de funcionários. A Trocafone facilita a compra e a venda de aparelhos celulares usados, não só na Vivo, mas em lojas parceiras como Samsung, Oi, LG e Sony. E a Gupy é a solução para o recrutamento da Vivo, que tem mais de 33 mil colaboradores.

No fim de 2020 houve recorde de investimentos em startups no Brasil, tendência que deve continuar pela próxima década

HUB DISTRITO | VIA

Lilian Natal, sócia e head do Distrito, conta que no início da pandemia o mercado se retraiu, mas que no fim de 2020 houve recorde de investimento em startups no Brasil, tendência que deve continuar pela próxima década. “No início to dos ficaram muito assustados. Os fundos de investimento em startups caíram em maio e junho, mas o quadro logo se reverteu. As empresas perceberam que precisavam fazer exatamente o contrário, apostar em inovação, programar-se para um investimento de longo prazo e uma mudança de cultura na organização. Quem não entrar nesse ecossistema vai ficar para trás”, analisa.

O Distrito é a maior plataforma de inovação aberta da América Latina, com mais de 600 startups residentes e 14 mil monitoradas, além de 65 corporações parceiras. Entre as residentes, 110 frequentam o hub – as outras trabalham de forma totalmente remota. Com quatro sedes organizadas por áreas de atuação em São Paulo e Curitiba, o hub já vinha desenvolvendo antes da pandemia uma plataforma digital completa para que pudesse atuar no Brasil inteiro. Em abril de 2020, a equipe lançou o projeto. Há um programa de desenvolvimento digital para as startups, outro de inovação aberta para empresas, serviços e assistência para investidores e outros players, além da publicação de análises de mercado.

Também na pandemia, em novembro de 2020 a Via, maior empresa de varejo de eletroeletrônicos e móveis do Brasil, virou sócia do Distrito. Dona de marcas como Casas Bahia, Pontofrio e Extra.com.br, com mais de mil lojas em todo o país e 97 milhões de clientes, a corporação já trabalha para ampliar sua área de atuação para além do mercado de varejo e tem certeza de que a inovação é o caminho.

“Como uma companhia que se expande para muito além do varejo, essa conexão direta com o hub é muito interessante também por uma questão cultural. A cabeça de uma startup é bem diferente, funciona diferente em tudo, na agilidade, na forma de fazer o RH, de criar um pro duto. Respirar um pouco dessa cultura nos faz adquirir muito dela”, defende Hélio Muniz, diretor de Comunicação Corporativa e Relações Institucionais.

A Via pretende disponibilizar até 200 milhões de reais para techs de varejo, consumo, logística, finanças e marketing

Além de chamadas abertas para startups criarem soluções operacionais, a Via aposta em investimentos minoritários nas jovens empresas. Em abril de 2021, o g rupo anunciou que vai disponibilizar até 200 milhões de reais em cinco anos para techs de varejo, consumo, logística, finanças e marketing.

“Estamos em conversa com várias startups, conectados em uma grande artéria que vai trazer muitas soluções e retorno de negócios. Estamos caminhando para um ambiente realmente tecnológico, mudamos nossa maneira de olhar para o trabalho. Hoje posso ter uma solução de reputação de negócios, por exemplo, em uma empresa de Minas Gerais. Como eu chegaria nela antes? Agora, hubs como Distrito e Cubo fazem essa ponte em pouquíssimo tempo”, comemora Hélio.

AÇOLAB | ARCELORMITTAL

Líder mundial na produção de aço, com sede em seis estados no Brasil e escritórios por todo o país, o Grupo ArcelorMittal conseguiu aumentar suas vendas online em 40% em cidades escolhidas durante a pandemia em uma parceria com uma startup da área de logística e varejo. “O nosso comércio online, pela loja ArcelorMittal, é anterior à pandemia e uma área muito importante para o grupo. Na pandemia, a demanda online explodiu. Hoje a gente consegue entregar qualquer produto em qualquer lugar do Brasil. Construiu-se uma rede que permite que um pacote de pregos chegue a Manaus e também ao Sul. Fizemos uma parceria com uma startup e desenvolvemos juntos a solução, que ainda não estava pronta. É assim que funciona na maioria dos casos”, conta Rodrigo Carazolli, gerente-geral de Inovação, Novos Negócios e Açolab Ventures.

A ArcelorMittal tem centros de pesquisas próprios em 12 cidades no mundo, sendo o de Vitória (ES) o representante da América Latina. Eles já trabalhavam projetos de inovação de maneira integrada, mas em julho de 2018 foi inaugurado o Açolab, o primeiro hub de inovação aberta da empresa. “Até esse momento tínhamos a inovação aberta de maneira mais informal, trocávamos com parceiros e universidades. Percebemos que precisávamos estudar e entender mais todos os atores. Visitamos várias empresas, hubs e aceleradoras no
Brasil e no mundo. Mais do que fazer parcerias com startups, ganhamos o desenvolvimento da cultura de inovação aberta, o valor que está por trás de tudo”, explica Rodrigo.
Como primeiro hub de inovação aberta da empresa no mundo, o Açolab está estimulando a criação de outros semelhantes em sedes de outros países. Ele fica em Belo Horizonte, e há mais um hub voltado à transformação digital do grupo em Vitória, o projeto iNO. VC. “Para se ter uma ideia do volume de trabalho, hoje estamos conectados a mais de 7 mil startups, 50% brasileiras.

Temos conversado com Israel, Suécia e Canadá nos últimos dias. A inovação para nós deve ser descentralizada. O papel do laboratório de inovação é fomentar, trazer metodologias e criar ambientes para que os agentes se encontrem.
E, claro, gerar valor a partir dessas conexões”, defende Rodrigo.
Ele explica que a pandemia fez com que os encontros com parceiros do hub fossem facilitados, já que todos se familiarizaram com o ambiente virtual, e que a migração de cursos e reuniões para o virtual ajudou também a aumentar a escala de participação. “Avançamos em muitos aspectos, mas o encontro presencial ainda é importante. Já fizemos planejamento estratégico ao vivo, respeitando todos os protocolos, e aos poucos migraremos para o modelo híbrido. Há vários projetos que conseguimos tocar até quase o fim a distância, apenas com a última fase exigindo o encontro presencial”, conta.

Após três anos de inauguração do hub, em maio de 2021 a ArcelorMittal criou o Açolab Ventures, fundo de gestão do grupo para acelerar startups e pequenas empresas inovadoras por meio de investimento. Ele injetará mais de 100 milhões de reais em startups das áreas de siderurgia, mineração, construção civil, indústria, sustentabilidade, logística, comercial e varejo. “A Aval Tecnologia foi a primeira startup selecionada. A plataforma Agilean, de gestão da construção civil, aumentará muito a produtividade de um canteiro de obras. É o primeiro passo dado para alcançarmos a nossa meta de dez a 15 investimentos nos próximos quatro anos”, planeja Rodrigo.

Em parceria com uma startup, o grupo ArcelorMittal conseguiu aumentar suas vendas online em 40% durante a pandemia

CONEXO | EMPRESAS RANDON

A primeira equipe de inovação das Empresas Randon surgiu em 2017 e se intitulava “Clandestinos”. Poucos gestores sabiam que três funcionários de diferentes áreas haviam sido deslocados para um hub parceiro. Fora das pressões do dia a dia, eles foram o primeiro grupo que precedeu outras “gerações ExO”. Em outubro de 2020, durante a pandemia, a Conexo foi inaugurada. Hub de inovação aberta próprio da empresa, ganhou espaço físico em Caxias do Sul (RS) e plataforma virtual com igual importância.
“O projeto já nasceu com uma plataforma digital para atrair agentes de todos os locais do Brasil. Conseguimos fazer um evento de inauguração online com a presença de representantes do governo do Estado, da prefeitura e da Câmara dos Deputados. Todos ganham com a criação da Conexo. Oferecemos programas de inovação da porta para dentro, mas também, e principalmente, para toda a comunidade, criando novos negócios para as Empresas Randon e para os empreendedores locais”, explica Veridiana Sonego, diretora de Planejamento e Comunicação Corporativa do grupo.
O foco principal dos negócios da Conexo são oportunidades para soluções de transporte, logística e serviços financeiros. Os processos de inovação, que começaram antes mesmo da criação do hub, já permitiram a criação de aproximadamente 200 robôs que automatizam operações do dia a dia, como a emissão de notas fiscais.
“Não são os clássicos robôs que têm forma de humano, mas trabalham muito bem. Os primeiros tinham, inclusive, nomes próprios”, diverte-se Veridiana, citando outras soluções em teste. “Temos o protótipo de um sistema para otimizar o uso e a movimentação de empilhadeiras nas fábricas, que em vez de terem uma rota fixa vão trabalhar sob demanda. Também testamos exoesqueletos para separar com mais agilidade e eficiência peças que hoje são selecionadas manualmente.”

Veridiana conta que os executivos se envolveram totalmente na transformação cultural. Dois deles fizeram uma imersão em empresas do Vale do Silício. “Foram estudar, passaram um tempo lá, entenderam o que era a inovação aberta, que as equipes e todo o sistema precisavam ter autonomia. Essa mentalidade partiu muito da convicção deles de que precisávamos explorar o ecossistema de inovação, conhecer novas tecnologias, mapear oportunidades e novos comportamentos, recomendar parcerias com startups e acelerar a transformação digital”, relembra.

ENEL INNOVATION HUB

A Enel é uma multinacional italiana e, no Brasil, a maior empresa privada do setor elétrico, com liderança no desenvolvimento das fontes renováveis de energia. Parte do projeto global de inovação, seu hub Inovação Aberta é um convite ao ambiente de startups, empreendedores e pequenas e médias empresas para colaborar e construir novos caminhos e soluções para seus desafios.
Filippo Alberganti, head de Inovação no Brasil, explica que eles querem trabalhar a ideia de uma inovação com acessibilidade e inclusão que não tenha o foco somente na infraestrutura, mas sim nas pessoas, nas comunidades. “Em todos os países em que a Enel trabalha, com venda e distribuição de energia, o propósito é colocar o cliente no centro da empresa ‒ e a inovação está a serviço disso. A terrível experiência da pandemia foi uma oportunidade para impulsionar o atendimento digital.”

Na Enel, os laboratórios são os locais ideais para os testes dos projetos desenvolvidos virtualmente

A fim de buscar uma solução sustentável de longo prazo para o reaproveitamento de equipamentos de painéis solares e infraestrutura de medição, a Enel lançou um desafio público em busca de parcerias. “Quando falamos em medidores de energia, já temos um processo muito estabelecido de descarte correto, um grupo de trabalho que estuda como e se esse equipamento pode retornar como matéria-prima para outras indústrias ou para construir os medidores das novas gerações. Mas, como os painéis de nossas usinas solares são muito recentes, ainda não estão em um momento de substituição. Daqui a duas décadas isso vai acontecer, e a gente precisa sinalizar para o mercado, ter as soluções ideais, a longo prazo”, detalha Loren Almeida, head do Inovação Aberta.

Com a pandemia, encontros que ela precisava programar com muita antecedência, reuniões presenciais que uniam equipes internas e startups de diferentes cidades, passaram a ser virtuais. “Todos aprenderam a trabalhar bem com a tecnologia; não tiveram escolha. Isso facilitou, acelerou e diminuiu custos”, diz Loren. Os laboratórios da empresa são os locais ideais para os testes dos projetos desenvolvidos virtualmente, quando os produtos viram protótipos.
Loren explica que a inovação tem uma curva de desenvolvimento própria e que muitas vezes é um processo demorado. Equacionar as expectativas de colaboradores da Enel e das startups parceiras é um dos desafios. “Com equipes e processos enxutos, as startups estão acostumadas a tudo muito rápido. Internamente, temos sempre mais de uma área envolvida na Enel. Estamos acostumados a mudanças instantâneas, mas alguns projetos precisam de um tempo de decantação. Vivemos calibrando as expectativas”, explica.

 
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