30 de novembro de 2020

Brasil pode ser o grande centro de produção de baterias de carros elétricos fora da Ásia

Lab de Comunicação para a Mobilidade debateu as ‘Iniciativas de eletrificação em mobilidade urbana: comunicar para esclarecer’ 
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Lab de Comunicação para a Mobilidade debateu as ‘Iniciativas de eletrificação em mobilidade urbana: comunicar para esclarecer’

O uso dos combustíveis fósseis para a geração de energia elétrica há mais de três séculos trouxe avanços significativos para a humanidade, que somente há algumas décadas começou a perceber os efeitos nefastos provocados por esse progresso, como a emissão de gases poluentes na atmosfera. Em um mundo globalizado, tecnológico e digital, o uso desse tipo de combustível é tão primitivo quanto a sua própria composição. Na busca de um futuro sustentável, as energias renováveis – como hídrica, solar, eólica e biomassa – assumem o protagonismo, impulsionando a economia e fomentando a eletrificação em vários setores, inclusive no de mobilidade urbana. Pesquisa do Programa de Mobilidade Elétrica da ONU aponta que os meios de transporte representam 25% de toda emissão de gás carbônico no planeta.

A partir do tema “Iniciativas de eletrificação em mobilidade urbana: comunicar para esclarecer”, a Aberje promoveu mais um Lab de Comunicação para a Mobilidade no dia 25 de novembro, transmitido pelo canal da associação no Youtube. Para discutir o papel da Comunicação na transição do uso da energia a combustão para a elétrica, foram convidados os palestrantes: Nelson Silveira, diretor de Comunicação Corporativa e Marca da General Motors no Brasil, Adalberto Maluf, presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), e Carlos Costa, gerente de Operações do Grupo CCR – Companhia de Concessões Rodoviárias. O evento foi moderado por Marcus de Barros Pinto, superintendente de Comunicação Externa da Neoenergia.

O potencial brasileiro

Matriz energética brasileira

Com uma matriz energética relativamente limpa se comparada a outros países, o Brasil tem as condições ideais para tornar-se um dos maiores produtores de hidroeletricidade do mundo. Para se ter uma ideia, a matriz energética mundial – que representa todo tipo de energia que gera eletricidade -, ainda é muito pouco sustentável (14% – dados de 2016). Bem diferente, o perfil da matriz brasileira conta com maior presença de energias renováveis (43,5%). Quanto à matriz elétrica, de novo o Brasil tem uma vantagem imensa, considerando-se a energia renovável: com a prevalência da hidrelétrica e cada vez mais solar, eólica e biomassa. Se comparadas, a brasileira é 83% renovável contra apenas 24% da mundial.

No caso específico da Neoenergia, de acordo com Marcus de Barros Pinto, superintendente de Comunicação Externa da companhia, a matriz de geração é 90% renovável, com a operação das hidrelétricas e ampliação do parque eólico brasileiro. “Temos como meta reduzir em 50% a emissão de gás carbônico até 2030 e neutralizar em 2050, compromisso que grandes empresas vêm assumindo rumo a um planeta sustentável”, frisou.

Marcus de Barros Pinto, da Neoenergia

Segundo relatório da Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena), a energia eólica vai suprir um terço da emissão total de energia e a solar vem em seguida com 25%. “O mundo tem feito uma escolha muito clara: a maioria das empresas está migrando para a cadeia produtiva sustentável, demandando por energia limpa. No Brasil temos essa vantagem: muita água, muito sol, muito vento, fora outras fontes de energia consideradas renováveis”, enfatizou Barros. “25% de toda emissão de gás carbônico no planeta é resultante dos meios de transporte. Nós acreditamos que a eletrificação da frota será o futuro da mobilidade veicular rural e urbana”, completou.

Uma indústria em transformação

Apresentação de Adalberto Maluf

O setor automotivo e o elétrico passam por uma revolução energética para a mobilidade, a fim de construir cidades cada vez mais sustentáveis através dos veículo híbridos e elétricos, realidade mais avançado no mercado internacional. Por aqui, a micromobilidade – patinetes, bicicletas elétricas, por exemplo – foi a área que mais cresceu nos últimos anos e vem preparando as cidades para esse novo ecossistema.

Durante a live da Aberje, o presidente da ABVE Adalberto Maluf, também membro do conselho da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) e da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) afirmou que a legislação brasileira – criada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – foi favorável ao permitir que vários atores, juntamente com o sistema elétrico e distribuidoras de energia, pudessem criar uma solução integrada rumo à consolidação de um nicho de mercado.

Adalberto Maluf, presidente da ABVE

“Vemos cada vez mais os veículos elétricos em aplicações específicas, desde compartilhamento até a logística, frotas públicas, distribuição de alimentos, concessionárias de rodovias…São novos modelos de negócios surgindo, basicamente porque o veículo elétrico, apesar de ser um pouco mais caro, tem um TCO (Total Cost of Ownership – Custo Total da Posse), benéfico quando muito utilizado”, argumentou Maluf, acrescentando que conectividade, digitalização, mobility as a service associados aos carros elétricos e híbridos são as principais tendências do setor elétrico nos próximos cinco anos.

Recentemente, a General Motors anunciou o lançamento de 30 novos veículos elétricos até 2025, ano em que 40% dos novos lançamentos da marca já serão 100% elétricos, além da nova geração de baterias a menor custo. Segundo o diretor de Comunicação Corporativa e Marca da GM no Brasil, Nelson Silveira a próxima geração de baterias será mais barata.

Nelson Silveira, da GM do Brasil

“A expectativa é muito grande para que nos próximos cinco anos o carro elétrico tenha um custo similar aos carros convencionais”, projetou, informando ainda que até meados desta década, as novas baterias da marca irão superar a autonomia de 700 km – atualmente a autonomia gira em torno de 400 km. “Isso é algo absolutamente espetacular. Estamos caminhando a passos largos para um futuro 100% elétrico, autônomo, conectado e compartilhado”, concluiu Silveira, que trouxe uma apresentação altamente didática ao esclarecer as dúvidas mais comuns sobre o carro elétrico (leia box ao final da matéria).

O carro elétrico na prática

Ao abordar a aplicabilidade do carro elétrico na operação rodoviária, Carlos Costa, gerente de Operações do Grupo CCR – uma das maiores empresas de concessão de infraestrutura da América Latina -, explicou o funcionamento do complexo sistema operacional da via Oeste, trecho composto por quatro rodovias que totaliza 170 km e onde circulam cerca de 600 veículos por dia. “A complexidade se dá porque se a pista ficar interditada, para cada três minutos de paralisação haverá um quilômetro de lentidão. É uma operação rodoviária que tem que funcionar”, disse.

Costa enfatizou que a operação rodoviária é um laboratório rigoroso para o uso de um veículo elétrico. A da via Oeste é composta por um Centro de Controle Operacional com tecnologia adequada para receber todas as demandas provenientes da rodovia. Segundo o executivo, no ano passado as viaturas rodaram no trecho, em média, sete mil quilômetros por dia, 210 mil por mês e cerca de dois milhões e 500 mil km no ano, o equivalente a sete vezes a distância entre a Terra e a lua. “Isso quer dizer que precisamos de um veículo que tenha eficiência e disponibilidade, dois fatores preponderantes para a operação rodoviária. Em 18 meses de operação com carros elétricos não tivemos problemas”, afirmou.

Carlos Costa, do Grupo CCR

A visão de futuro do Grupo CCR já alcança 2050. O projeto Rodovias – Jornada para o Amanhã propõe a eletrificação de 100% da frota – tanto leve quanto pesados – e a microgeração de energia com o uso de placas fotovoltaicas de armazenamento. “Aí a conta fica melhor ainda pois ‘eu mesmo’ vou gerar a energia que a ‘minha’ frota vai consumir. Já temos o projeto aprovado e orçamento destinado para 2021 para a construção da primeira fazenda de energia solar no rodoanel Oeste de São Paulo. Este é um caminho que não tem volta’, comentou o executivo.

Comunicar para esclarecer

Durante a live da Aberje, os palestrantes reforçaram que são inúmeras as vantagens dos veículos elétricos e o que falta é comunicar todos esses benefícios a começar pelos impactos na saúde pública, a relação da poluição com a mortalidade, a redução dos ruídos urbanos impactando na saúde mental das pessoas, o papel da micromobilidade e da mobilidade ativa no pós-pandemia, a importância da logística verde e os investimentos no transporte público. Uma tarefa que deve ser feita pela iniciativa privada em conjunto com o poder público.

Comparado a outros países, o Brasil carece de uma forte liderança dos governos no sentido de coordenar esforços com foco na indústria do futuro. Não existe uma política pública integrada com o objetivo de fomentar a eletromobilidade como um todo. Então…Como comunicar para atender à revolução da eletrificação da economia e da sociedade? Como comunicar os projetos-pilotos já existentes nessa área para que o setor ganhe a visibilidade necessária para possibilitar a criação de uma política pública efetiva? Esse é o maior desafio do setor.

Para Silveira, um dos grandes desafios quando se fala em eletrificação e carro elétrico é justamente comunicar. “Fazer com que o consumidor entenda melhor essa tecnologia e principalmente desmistificar a ideia de que as pessoas podem ter de que o carro elétrico é um projeto de Ciência”, comentou, acrescentando os pilares que sustentam a visão de futuro da GM: a eletrificação, a conectividade, a autonomia e o compartilhamento.

Na visão de Maluf, o Brasil e o Mercosul têm um potencial de ser o grande centro de produção de baterias fora da Ásia graças à abundância de reservas de lítio, principal matéria-prima para produzi-las. “Temos que conscientizar os formadores de opinião e o poder público, desmistificar todas as ações associadas è eletromobilidade, dar visibilidade aos projetos pilotos e iniciativas de corporações e governos no mundo todo, mostrar a viabilidade técnica e econômica nesse processo de redução de custos e consolidação do setor”.

Costa concorda com Silveira e Maluf de que é preciso desmistificar o assunto porque definidamente não é um projeto de Ciência; já é aplicado na prática. “Não faz sentido uma empresa existir se não tiver em sua missão o desenvolvimento sustentável. A Comunicação deve ter esse viés, de mostrar para a sociedade que a eletrificação é o melhor caminho que temos como meio de locomoção. Essa comunicação deve ser direcionada para diferentes públicos e amparada por uma política de governo para que o carro elétrico tenha como ser competitivo frente aos automóveis a combustão”.

“Precisamos buscar canais para poder comunicar esses projetos pilotos e dar a escala necessária para que o Brasil também possa fazer parte dessa revolução, da transição para a indústria do futuro e criar mais empregos que tanto precisamos para fazer parte dessa cadeia produtiva global”, arrematou Maluf.


10 dúvidas comuns sobre o carro elétrico: 

1 – E se a bateria acabar no meio do caminho?
A autonomia do carro elétrico já é similar a de carro a combustão, pois é capaz de rodar um mínimo de 400 km antes de ser recarregado. Considerando que um brasileiro dirige 40 km dia, na média, o consumidor pode rodar dez dias sem precisar recarregá-lo.
2 – A potência de um carro elétrico é igual a de um carro tradicional?
A performance do carro elétrico é excepcional, pode ser muito mais potente do que um carro a combustão.
3 – Como fazer se não tiver estação de recarga na minha cidade?
É crescente o número de eletropostos – estações rápidas de recarga pelas cidades. Muitas startups no mercado estão trabalhando com isso e essa infraestrutura de pontos de recarga tende a crescer nos próximos anos acompanhando a oferta de carros elétricos.
4 – A energia elétrica é mais cara do que a gasolina?
Não. Um carro elétrico possui um custo mensal com abastecimento quatro vezes menor do que um carro com motor a combustão interna, sem contar que o elétrico tem uma estrutura mais simples que gera menos custo de manutenção.
5 – Qual a vida útil da bateria do carro?
Em torno de dez anos.
6 – O carro elétrico é mais complexo que o carro a combustão?
Não. A quantidade de componentes e um carro elétrico é menor. O carro a combustão interna possui, em média, cerca de 1.000 componentes, o híbrido cerca de 1.200, já o elétrico tem apenas 200 componentes.
7 – O que acontece com a bateria depois?
Quando sua vida útil acaba, as baterias ainda têm 20% da capacidade residual e podem ser utilizadas em geradores estacionários por mais 20 anos. Depois disso, elas podem ser recondicionadas, reutilizadas e recicladas.
8 – É verdade que o elétrico não polui?
Sim, o carro 100% elétrico é zero emissão. Mais de 80% da matriz energética no Brasil é limpa, portanto o carro elétrico combinado com uma matriz limpa é muito importante em termos de sustentabilidade.
9 – O carro 100% elétrico é mais caro?
Apesar de o custo do kw estar caindo ano após ano, o carro elétrico é caro atualmente em função das baterias. Para se produzir uma bateria com capacidade para rodar 400 km ou mais, são utilizados componentes químicos raros e caros, como o cobalto, por exemplo. A tecnologia está evoluindo para a substituição de alguns elementos químicos mais raros por outros que se encontram em abundância, como o lítio, um dos principais elementos da bateria, cujo potencial de exploração e geração é enorme pois existem muitas reservas inexploradas no Brasil e na América do Sul.
10 – Quais são os principais desafios para a eletrificação?
Os quatro passos para a eletrificação são: maior comunicação para levar ao consumidor um conhecimento maior das vantagens tecnológicas que um carro elétrico oferece; redução do custo do produto; políticas públicas de incentivo a carros de zero emissão e maior capilaridade dos postos de recarga ultrarápida.
Fonte: GM do Brasil

Assista à live na íntegra:

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