O quanto valem os valores – PARTE II
Em meu último artigo apresentei conceitos e reflexões sobre os valores pessoais, de trabalho e organizacionais. Algumas pessoas solicitaram mais informações e comentaram que o tema era bastante oportuno. Acredito que tais colocações, em grande parte, relacionam-se com o momento atual, de turbulência social, econômica e política recheada de comportamentos e atitudes estarrecedoras na esfera pública e privada.
Pois bem, é sobre comportamentos e atitudes que abordarei nesse artigo, retomando o tema valores, para tentar compreender, sob essa ótica, o rumo das nossas organizações e da nossa sociedade.
Importante resgatar, portanto, o conceito de valores humanos. Eles referem-se a um conjunto de valores pessoais, composto por necessidades, atitudes, crenças, sentimentos e vem sendo estudado cientificamente de forma a identificar, dentre outros aspectos, os motivos que levam os indivíduos a adotarem determinados comportamentos. Os valores direcionam as ações dos indivíduos e sofrem influência tanto da sociedade quanto das experiências pessoais, estabelecendo diversas formas de posicionamento diante de diferentes aspectos vivenciais.
Os autores Rokeach e Regan (1980) exploram um conceito de valor que exprime a maneira como um indivíduo acredita que deve proceder diante de determinadas situações. O indivíduo acredita que certo tipo de conduta ou dada maneira de proceder diante de uma circunstância será pessoalmente ou socialmente preferível, se comparada à conduta oposta.
No sistema cognitivo do ser humano, os valores são mais estáveis e ocupam posição mais central em relação a atitudes. Portanto, os valores são determinantes das atitudes e dos comportamentos (KAMAKURA E NOVAK, 1992).
Um núcleo de pesquisadores do qual faço parte (*) realizou um estudo em que os resultados apresentaram o seguinte diagnóstico em relação aos valores de trabalhadores de determinada amostra pesquisada:
- Grupo 1: tem como princípios orientadores em suas vidas dinheiro, bens materiais e vida confortável.
- Grupo 2: direciona as suas ações e avaliações individuais pelo prazer, desfrute da vida, senso de pertencimento com grupos sociais, afeto e bondade.
- Grupo 3: não possuem um valor ou conjunto de valores predominantes que possam influenciar seu comportamento (pasmem!)
O resultado desse estudo, especificamente do último grupo, causa, digamos, certo desconforto, e considero o ponto central desse artigo. Na perspectiva organizacional, ele sinaliza implicações gerenciais relevantes para a gestão de pessoas ao revelar o desafio de gerenciar indivíduos que não possuem um valor ou um conjunto de valores predominantes. Nessa direção, constata-se que o gestor não tem conhecimento dos valores que irão direcionar as atitudes e comportamentos desses profissionais, o que dificulta identificar aqueles que são mais susceptíveis que outros à adoção de um padrão comum de crenças, atitudes e comportamentos. Os resultados também demonstraram que não é possível gerenciar de forma igual indivíduos diferentes entre si.
Instigante, não? Indivíduos que não apresentam uma predominância de valores, de preferências pessoais, de princípios norteadores para sua vida e para objetivos duradouros. Um “belo” desafio para as organizações e seus gestores!
Apresenta-se, também, como um desafio para a sociedade. O que isso representa? O que arriscaríamos dizer? Determinados indivíduos estão sem rumo, insatisfeitos, não têm uma base (moral) para lhes guiar? E se os valores são determinantes das atitudes e dos comportamentos, como fica? É preciso mais aprofundamento na questão para avançar sobre tais hipóteses e indagações.
Em nosso país, recentes “episódios superlativos” como o mensalão e o petrolão – frutos de atos de corrupção – podem estar relacionados, pois, aos valores (ou à falta deles). Deixo aqui, portanto, essa dúvida para oportunizar mais análises e debates dentre os pesquisadores, executivos, líderes e todos nós, cidadãos.
Referências:
– ROKEACH, M.; REGAN, J. The role of values in the counseling situation. Personnel & Guidance Journal, v. 58, p. 576-582, 1980.
– KAMAKURA, W; NOVAK, T. Value System Segmentation: exploring the meaning of LOV. Journal of Consumer Research, v. 19, p. 119-131, 1992.
(*) Grupo de estudos da Universidade Fumec – BH/MG, sobre Comportamento Organizacional, sob orientação do Prof. Dr. Mário Teixeira Reis Neto.
Destaques
- Comitê de Gestão da Comunicação e Reputação Corporativas discute fake news e seu impacto na reputação das organizações
- Lições da Comunicação nos Jogos Olímpicos de 2024
- Masterclass com Raí marca lançamento do Mestrado Profissional em Comunicação Digital e Cultura de Dados
- Comitê Aberje de Comunicação Interna, Cultura Organizacional e Marca Empregadora aborda liderança na comunicação interna
- Raí fará masterclass para primeira turma do Mestrado Profissional em parceria da Aberje com FGV e Fundação Itaú
ARTIGOS E COLUNAS
Carlos Parente Desafios da comunicação corporativa nos processos eleitorais: você digita um número na urna e confirma!Bianca Minguci A Importância da inteligência competitiva na comunicação corporativaMarcos Santos O centenário de uma marcaAdriana Toledo A era das collabs: por que parcerias criativas dominam o mercadoAgnaldo Brito O papel estratégico da Comunicação Corporativa no segmento de infraestrutura