25 de agosto de 2016

Um outro lado da indústria da mineração

André Sollitto

 

A edição deste ano do Prêmio Universitário Aberje, o PUA, tem como tema “A indústria da mineração é mais do que o que você vê”. E para lançar o projeto oficialmente, o evento realizado na última quarta-feira, 24/08, na sede da Aberje reuniu representantes da área de comunicação de diversas mineradoras que atuam no Brasil, além da palestrante Vânia Bueno Cury.

Abrindo o evento, Vânia ofereceu um valioso guia de atuação para os estudantes que pretendem criar cases e disputar o prêmio. Ela sugere uma atuação baseada em três partes da própria palavra “comunicação”. A primeira é “com”. “Falamos muito sobre o outro, sobre alguma coisa. É preciso pensar em como falar com o outro. Não existe mais outro caminho, não dá mais para buscar soluções isoladas”, afirma.

Levando em conta o contexto de macrotransição do mundo hoje, em que diversas mudanças estão afetando, de maneira complexa, todos os níveis e sistemas, é preciso aproveitar o momento que ela chama de “não sei”. “O saber nos limita, a definição tira as possibilidades. Já o ‘não sei’ abre a possibilidade do novo, do inovador”.

Segundo Vânia, todos são comunicadores. No mundo globalizado, não é possível mais se basear apenas no mapa, que apresenta uma representação simples, mas é necessário pensar a comunicação tendo em vista o território, mais complexo, em que estão a vida e as relações entre as pessoas.

Vânia Bueno Cury, consultora de Comunicação
Vânia Bueno Cury, consultora de Comunicação

A segunda parte da atuação baseada na comunicação é a “ação”. Para a Vânia, o mundo pede mais ações-chave que mensagens-chave. Hoje, comunicação é igual a comportamento, e ela deve ser pensada não como um telégrafo, mas como uma orquestra. Parecer é pouco, é preciso ser. Os estudantes que se inscreverem no prêmio devem pensar nas ações que o setor da mineração pode fazer para ser percebido da maneira como quer.

E esse momento de pensar essas ações pode ser determinante para um futuro melhor. “Acho que em breve será mais conveniente fazer o certo. É muito caro e difícil mentir”, afirma ela. Vânia dá o exemplo do nadador americano Ryan Lochte, que mentiu ao dizer que foi assaltado enquanto participava dos Jogos Olímpicos do Rio. “Se a imagem é a percepção do discurso, a reputação é a constatação da atitude”.

A terceira e última parte da atuação se baseia em “única”. Porque, segundo ela, cada oportunidade é única na vida. O prêmio deve ser um meio, e não um fim, já que a participação pode abrir portas no futuro.

E para que os estudantes aproveitem ao máximo essa oportunidade, ela sugere evitar a abordagem convencional na resolução de problemas, que consiste em analisar o passado para identificar as falhas, e optar por uma abordagem apreciativa, com a investigação do presente para identificar o potencial e cocriar o futuro desejado, em vez de apenas corrigir falhas.

 

A indústria de mineração

Na hora de preparar o case para disputar o prêmio, é preciso levar em conta que a indústria da mineração é um conceito muito maior que a própria mineração. A Vale, patrocinadora desta edição do prêmio, apresentou aos estudantes um vídeo que mostra como o nosso dia a dia seria diferente sem a mineração. Por conta desse grande impacto, as empresas mineradoras precisam pensar a longo prazo, e a sustentabilidade é um tema importante a todas elas.

As maneiras de aumentar o conhecimento do público sobre a atuação da indústria da mineração e sua relação com a sustentabilidade foram os temas principais da roda de debate que contou com representantes da área de comunicação da Anglo American, AngloGold Ashanti, Gerdau, Hydro, Kinross e Vale, todos apoiadores da sexta edição do PUA.

Representantes da área de comunicação da Anglo American, AngloGold Ashanti, Gerdau, Hydro, Kinross e Vale, todos apoiadores da sexta edição do PUA
Bruno Gomes de Castilho, da Gerdau, Mariana Rosa, da Anglo American, Paulo Henrique, da VALE,  Ana Cunha, da Kinross,  Renata Freitas, da Hydro e Othon de Villefort Maia, da Anglo Gold Ashanti Brasil

Como mudar o imaginário coletivo, bastante negativo, sobre a mineração? Como ressignificar a profissão de mineiro? Como ter certeza que os colaboradores de uma mineradora têm plena consciência do impacto do trabalho que fazem, em um mundo em que há uma distinção cada vez menor entre público interno e público externo? Como trabalhar para que a atuação de uma mineradora seja abraçada pela sociedade, já que existem diversos casos em que minas não puderam se instalar, mesmo com viabilidade econômica, por não terem sido aceitas pelas comunidades locais? Como preparar a comunidade em que uma mineradora atua para o futuro, quando a extração de determinado minério terminar?

Todas essas foram questões levantadas pelos comunicadores, assim como a tragédia em Mariana, um acontecimento posterior à idealização desta edição do prêmio, mas que reforça a necessidade de trabalhar a comunicação da indústria da mineração; e o gap de informação que existe no Brasil sobre a atuação no setor, já que em outros países as mineradoras não têm essa imagem pouco positiva – possivelmente derivada da nossa própria história e da associação que é feita entre a mineração e a imagem do garimpo ou dos portugueses em busca das pedras preciosas brasileiras.

As inscrições da sexta edição do Prêmio Universitário Aberje vão até o dia 12/09 e podem ser feitas no site do 6º PUA.

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