02 de julho de 2020

Reputação do país e investimento: a sustentabilidade no centro do debate

A visão de líderes de Comunicação de corporações brasileiras frente ao posicionamento dos investidores estrangeiros sobre imagem do país

Por Aurora Ayres

Floresta amazônica

A repercussão negativa da carta aberta enviada por investidores internacionais, no dia 23 de junho, a diplomatas brasileiros fomenta uma discussão que não é de hoje. No documento, o grupo sinaliza desinvestir no Brasil por causa do aumento do desmatamento na Amazônia. Os investidores estão cada vez mais considerando as questões ambientais e reconhecendo que o risco climático é um risco de investimento.

“Uma boa reputação é fator determinante para um país atrair investimentos, parcerias comerciais e apoio diplomático. Da mesma forma, uma nação liderada por um governo em grave crise ética repele parcerias e investimentos”. Esta é percepção internacional do Brasil no primeiro semestre deste ano, segundo estudo da Curado & Associados, consultoria especializada em gestão de imagem e reputação que divulga recortes trimestrais sobre a imagem do Brasil no exterior. 

O consultor de imagem e reputação Emerson Couto da Curado & Associados explica que a dimensão ética da imagem refere-se à dimensão de valor, de propósito. “São citações de comportamento que levam em conta a congruência moralmente aceita pela sociedade e o respeito aos direitos individuais fundamentais”, defende. 

O estudo destaca que a essência da imagem foi a de um governo federal brasileiro ‘irresponsável’, que promove ataques à democracia, desrespeita recomendações médicas e científicas na gestão de uma pandemia e adota políticas e posicionamentos que incentivam o desmatamento na Amazônia. “Em 2019, por ocasião das queimadas na Amazônia, em estudo semelhante de imagem feito pela Curado, Brasil já projetava aos olhos do mundo uma liderança frágil e irresponsável. Ou seja, não são problemas pontuais. São comportamentos e imagens que se repetem e cristalizam uma reputação”, comenta Couto.

Seja na esfera pública ou privada, quando cristalizada de forma negativa, a reputação é como uma mancha que custa a sair e qualquer crise de imagem tem o poder de colocar em risco a reputação de uma companhia. O desenvolvimento sustentável é uma das principais preocupações do mundo empresarial na atualidade. Tal discussão ganhou nova dimensão recentemente, a partir do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, em janeiro deste ano, que deixou explícito a relação indissociável entre prosperidade econômica e sustentabilidade ambiental. 

Risco climático é risco de investimento

Em sua carta anual aos acionistas, divulgada em janeiro deste ano, Larry Fink, CEO da BlackRock – maior gestora de investimentos do mundo, com uma carteira de ativos no valor de US$6,96 trilhões –, ressalta que as alterações climáticas tornaram-se um fator decisivo nas perspectivas das empresas a longo prazo. “As evidências sobre o risco climático estão forçando os investidores a reavaliarem os pressupostos básicos sobre as finanças modernas”, diz um trecho. “Dado o crescente impacto da sustentabilidade no retorno dos investimentos, acreditamos que a base mais forte para os portfólios dos nossos clientes no futuro é o investimento sustentável”.

Na opinião do superintendente de Relações Governamentais e Comunicação Corporativa do Itaú, Leandro Modé, o que muitos ainda acreditavam ser apenas desejável é, na realidade, mandatório. “As organizações vêm sendo demandadas por clientes, acionistas, colaboradores, fornecedores e a sociedade de forma geral a assumir compromissos em relação ao tema, com consequências importantes nas decisões de consumo e investimento”, observa. 

“Não é diferente para os países, e a manifestação de instituições do setor financeiro no último mês deixou ainda mais claro que temos muito a perder se não olharmos para a sustentabilidade como algo condição-chave para o desenvolvimento econômico e dos nossos negócios”, completa Modé.  

Tudo o que afasta o Brasil de se transformar na potência ambiental à qual é predestinado deveria ser revisto. Este é o ponto de vista do vice-presidente de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Natura, Marcelo Bicalho Behar. “O Brasil tem a maior biodiversidade do planeta, a capacidade para tornar sua agricultura ainda mais forte tendo a esfera ambiental como uma aliada”, argumenta.

“Os investidores parecem ter finalmente dado a devida importância ao tema e estão, cada vez mais, elencando entre suas prioridades investimentos que sejam sustentáveis não apenas financeiramente”, comenta Behar. Com mais de vinte anos de trabalho diário na Amazônia, a Natura firma a certeza de que não só é possível conciliar preservação e desenvolvimento, mas que ao fazer os dois ao mesmo tempo, é possível criar inovação e fortalecer ambas as dimensões.

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