30 de agosto de 2017

Comunicação face a face.

O artigo fala da comunicação face a face como base para uma gestão mais eficiente e mais humanizada. Aborda a conversa e o fiar da confiança através das trocas e da empatia que um diálogo verdadeiro entre líderes e liderados pode promover em prol da empresa e da sua busca por resultados.

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Conversa fiada não combina com o ambiente empresarial. Será mesmo? Eu sei que o “jogar conversa fora” é sinônimo de perda de tempo para gestores, cujo foco é alcançar a produtividade máxima, mas uma boa conversa baseada na confiança mútua é uma força motriz importante na organização. Olha só…

Acontece que o fiar de uma boa conversa é como tecer laços e vínculos trabalhando a prosa de um interlocutor para o outro. O fiar é o escutar o outro. Nessa troca, nessa costura de palavras e significados, a confiança surge e pode gerar entusiasmo e promover a motivação, além de ser a melhor dinâmica para o entendimento mútuo, de diferentes pontos de vista. O alcance das metas e a superação de desafios, bem como a alavanca de times de alta performance é uma consequência quando entendemos nosso papel no contexto e somos reconhecidos pelas lideranças. Reconhecimento é muitas vezes ser escutado, com atenção. Nelson Rodrigues falava que a vida era a busca por um ouvinte e num mundo no qual publicamos nossas opiniões on line e gostamos de receber likes, a conversa face a face é um diferencial valioso para um time. Muito diferente do simples cumprir ordens ou do escutar o monólogo do chefe, sem conseguir dar um palpite sequer.

Saber dialogar é saber fluir numa via de mão dupla, aberta, uma vez que “dois monólogos não fazem um diálogo”. Por isso, a conversa fiada nos ensina a tecer um vai e vem de troca, de esclarecimento mútuo e de colaboração, cooperação e redução das fofocas de corredor. Olho no olho, perceber nossa emoção e a do outro. Perceber que o corpo também comunica e que numa troca real, a empatia agrega mais na qualidade da conversa.

Ora, o que é a maledicência e o ti ti ti nos corredores das empresas, senão o resultado patente da falta de confiança nos canais oficiais de comunicação interna? Ou mesmo na própria palavra dos chefes imediatos? Credibilidade na palavra da organização é um fator vital para o engajamento. Alguém duvida? Quanto prejuízo as empresas não têm com conversas decoradas, sem energia ou crença real nos discursos automatizados ou cheio de jargões vazios, sem emoção, sem significado que faça a diferença para as pessoas. Ordens são ordens, mas diálogo e colaboração levam a outro patamar o ambiente de trabalho. Cumprir ordens é coisa de tarefeiro e eu falo aqui de potencialidades humanas.

Somos energia em movimento e a comunicação é o nosso combustível, através dela enxergamos não só com os olhos, mas através da nossa crença, com nossos corações. Isso tem muito de psicologia e mesmo que eu não seja um expert nessa área, vale lembrar que a cura pela fala é um processo individual na terapia e que dentro das organizações também opera milagres na integração das equipes e resolução de conflitos. Compreender nossa conversa interior, comunicação intrapessoal para ampliar o entendimento mútuo com outros interlocutores (comunicação interpessoal) é um aprendizado.

O fiar de uma conversa é portanto, a possibilidade de se valorizar o diálogo enquanto escuta atenta e afetuosa das outras pessoas com as quais nos relacionamos, percebendo a riqueza de pontos de vista diferentes, dos sentimentos humanos (não somos robôs, somos?) e muitas vezes inovadores. Uma conversa assim pede que deixemos o território conhecido dos nossos pressupostos e busquemos mais empatia na relação. E me perdoem os amantes da tecnologia digital, nada vai substituir o calor humano e o relacionamento olho no olho. O digital é ferramenta e eu falo aqui sobre presença, contato, vínculo.

Uma conversa fiada na base da confiança, da troca, do olhar, da escuta atenciosa e da empatia, organizada num sistema de comunicação interna eficiente, frequente e planejado,  substituindo o simples disparo de informações e encerrando em definitivo com o antigo conceito de um emissor distribuindo uma mensagem para um receptor passivo deve ser como um mantra de gestão eficiente e mais humana. Capaz de energizar as pessoas, facilitar a vida dos líderes e encerrar de uma vez com as fofocas ácidas da rádio corredor.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luiz Antônio Gaulia

Jornalista. Mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio. Especialista em Comunicação Empresarial pela Syracuse University/Aberje. Pós-graduado em Marketing e em Comunicação Jornalística. Ex-Gerente de Comunicação da CSN - Cia. Siderúrgica Nacional e da Alunorte (PA). Atuou no O Boticário e no Grupo Votorantim. Realizou projetos de comunicação corporativa e sustentabilidade para a VALE, a Light, Petrobras, Ajinomoto e Norsul. Foi Gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade do Grupo Estácio. É Diretor da Race Comunicação e professor da FGV Rio e da ESPM SP.

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