05 de março de 2018

Comunicação 4.0

A indústria 4.0 exigirá maior habilidade de comunicação e poucos apps ou plataformas on line serão capazes de dar conta do lado emocional das relações humanas. Este desafio existe desde a produção industrial mecanizada - a primeira revolução industrial-, e passou pelas mudanças trazidas pela eletricidade, a manufatura em massa e também com a chegada da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações. As inovações tecnológicas avançam, mas a dificuldade de conversar permanece.

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Internet das coisas, robôs, drones, inteligência artificial, big data, pesquisas sobre o cérebro e a união do digital com o físico e o biológico numa velocidade estonteante. Isso não é uma ficção, é uma realidade avassaladora percorrendo o universo empresarial e transformando a sociedade. De acordo Klaus Schwab, presidente executivo do Fórum Econômico Mundial e autor do livro A Quarta Revolução Industrial muita gente ainda não está enxergando as implicações de todos estes movimentos transformadores e revolucionários que a tecnologia está potencializando. O mercado de trabalho nunca mais será o mesmo e as dificuldades das organizações para contratar e capacitar pessoas para esse admirável mundo novo já são igualmente desafiadoras.

A promessa da chamada indústria 4.0 será de maior autonomia para as máquinas inteligentes, capazes de aprender sozinhas e se comunicarem entre si, liberando seus operadores humanos a controles remotos e maior tempo livre para se dedicarem a outros trabalhos ou para terem mais tempo livre com suas famílias. As cidades e os espaços físicos serão inteligentes e completamente interconectados a bancos de informações, imagens e dados capazes de identificar num piscar de olhos os interesses de um cliente ou até mesmo as intenções de um cidadão. Robôs humanizados e programados para a empatia substituirão telefonistas estressados nos call centers; drones farão o delivery das pizzas sem pedir gorjetas; em dias de chuva poderemos moldar nossas galochas de borracha em casa, nas nossas impressoras 3D, rapidamente, antes de sairmos para a rua encharcada; smart offices farão grupos de profissionais trabalharem à distância através de reuniões virtuais holográficas acabando com viagens internacionais ou evitando deslocamentos no trânsito; consumidores poderão vivenciar emoções e sensações através de gadgets instalados em seus dedos e sobre seus olhos antes de comprarem produtos ou serviços, testando a compra por completo e assim, dezenas de milhares de hábitos e comportamentos deverão mudar por completo pela força dessas inovações.

Mas para que tudo isso aconteça como imaginado pelos cientistas e pelos visionários empreendedores globais,  tamanha revolução demanda não somente conhecimentos técnicos por parte dos profissionais, mas de habilidades pessoais preciosas. As empresas precisam de gente com a paixão por aprender, desaprender e reaprender; capacidade colaborativa sob pressão e de trabalho em rede; capacidade de trabalhar em ambientes ambíguos e sob constante processo de mudança; flexibilidade e inteligência emocional para lidar com conflitos e capacidade para prever, entender e resolver problemas. Todos eles, no meu entender, baseados unicamente na habilidade de comunicação intra pessoal e interpessoal. Na base de tudo, a comunicação é chave de processos bem sucedidos.

A indústria 4.0 exigirá maior habilidade de comunicação e poucos apps ou plataformas on line serão capazes de dar conta do lado emocional das relações humanas. Este desafio existe desde a produção industrial mecanizada – a primeira revolução industrial-, e passou pelas mudanças trazidas pela eletricidade, a manufatura em massa e também com a chegada da eletrônica, da tecnologia da informação e das telecomunicações. As inovações tecnológicas avançam, mas a dificuldade de conversar permanece. Ou não? E no meu entender, assim permanecerá. Se robôs com reações humanizadas substituirão as pessoas em determinados locais de trabalho ou no atendimento ao público, as interlocuções presenciais continuarão conflitantes pois as novas disputas por poder, reconhecimento do mérito, competitividade entre departamentos, egos e vaidades, iniciativa e estilos de liderança continuarão existindo dentro das empresas afetando diretamente as relações humanas e prejudicando o diálogo.

A comunicação 4.0 vai ganhar mais apetrechos digitais, repletos de cores e luzes inebriantes mas precisará ganhar também em qualidade de relacionamentos, empatia e abertura para o diálogo. Um desafio que nos acompanha desde o tempo das cavernas.

 

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luiz Antônio Gaulia

Jornalista. Mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio. Especialista em Comunicação Empresarial pela Syracuse University/Aberje. Pós-graduado em Marketing e em Comunicação Jornalística. Ex-Gerente de Comunicação da CSN - Cia. Siderúrgica Nacional e da Alunorte (PA). Atuou no O Boticário e no Grupo Votorantim. Realizou projetos de comunicação corporativa e sustentabilidade para a VALE, a Light, Petrobras, Ajinomoto e Norsul. Foi Gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade do Grupo Estácio. É Diretor da Race Comunicação e professor da FGV Rio e da ESPM SP.

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