07 de fevereiro de 2011

Quem alarga os passos não caminha

Vivemos e desfrutamos de um mundo cada vez mais compacto em termos das distâncias virtuais. Nada nos parece longe. Equalizamos a velocidade da “rede mundial de computadores” e dos nossos “celulares” com a nossa velocidade do pensar e do agir. A convergência dos meios de comunicação parece não ter fim. É a era da conveniência total.

Se por um lado pode parecer uma evolução, por outro lado esse contexto pode ser aterrorizador, visto que caminhos mais curtos também podem encurtar nosso senso crítico e, em última análise, a nossa inteligência.

Como exemplo, o mundo virtual confirmou algumas das teorias do marketing na medida em que conseguiu prover variedade e disponibilidade para serviços e produtos em uma perspectiva vertiginosa, e com economia de escala. Nesse aspecto, porém, a abundância pode nos ter tornado perdulários e consumidores compulsivos, e o que realmente poderia fazer diferença pode se perder em meio ao cansaço da busca. O fato é que a conectividade democratiza o consumo, mas, sem que se perceba, o consumidor pode estar submetido a uma ditadura invisível.

Uma vez estabelecidas e disponibilizadas as últimas novidades da tecnologia para nos comunicarmos e mantermos o estado de interatividade total na mais alta frequência, com gigas e teras de memória e velocidade total na banda; uma vez possuidores de muito mais de um milhão de amigos e podermos cantar bem mais forte como desejava o Rei Roberto Carlos; uma vez que já não preciso ser eu mesmo para atuar no palco virtual da vida e então sou mais corajoso, Pergunta-se: por que não fazer algo realmente diferente, mas, diferente no sentido de inteligente? Resposta: porque “quem alarga os passos não caminha”, não aprende com a caminhada, queima etapas de aprendizado, se perde numa encruzilhada de múltiplas escolhas. Vive-se uma eterna sensação de insatisfação e crise de sentido.

O que Adam Smith (1723-1790) teorizou e conseguiu aplicar com a “divisão do trabalho”, em termos de produtividade em escala industrial, fez com que os trabalhadores deixassem de conhecer todo o processo de produção, perdessem a relação com o resultado final do seu trabalho, implicando em fonte de alienação, estresse e insatisfação. Os fragmentos de informação soltos no ciberespaço podem levar a uma divisão do processo de comunicação que implica nas mesmas consequências da divisão do trabalho, ou seja, alienação, estresse e insatisfação.

O ser humano sempre procurou reservar um tempo na história para desfrutar da tecnologia consolidada com o prazer de quem sai para gozar férias. O fato é que a “utilidade” e a “conveniência” nos tem feito reféns das “ferramentas” e escravos de um tempo que não temos mais.  Invertemos a nossa lógica comunicacional. Mas, e de concreto? Muito pouco (com o perdão da má expressão). O “triunfo do indivíduo” (Megatrends 2000 – John Naisbitt, 1990) nos tornou competitivos em demasia. Criados para brilhar. Porém, “quem vê por si não se ilumina” (Lao Tsé – Tão Te King). A abundância de meios de comunicação e os respectivos conteúdos não têm conseguido nem seletividade e nem profundidade. O resultado da opinião formada tende a uma superficialidade alienante.

Não tomem esta reflexão de forma pessimista e contra o mercado. Precisamos vislumbrar outras oportunidades a partir de outros pontos de vista sobre a comunicação e suas ferramentas. É somente uma reflexão. A pergunta que fica não é aonde queremos chegar, mas, se vamos chegar a algum lugar (?)

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07 de fevereiro de 2011

Quem alarga os passos não caminha

Vivemos e desfrutamos de um mundo cada vez mais compacto em termos das distâncias virtuais. Nada nos parece longe. Equalizamos a velocidade da “rede mundial de computadores” e dos nossos “celulares” com a nossa velocidade do pensar e do agir. A convergência dos meios de comunicação parece não ter fim. É a era da conveniência total.

Se por um lado pode parecer uma evolução, por outro lado esse contexto pode ser aterrorizador, visto que caminhos mais curtos também podem encurtar nosso senso crítico e, em última análise, a nossa inteligência.

Como exemplo, o mundo virtual confirmou algumas das teorias do marketing na medida em que conseguiu prover variedade e disponibilidade para serviços e produtos em uma perspectiva vertiginosa, e com economia de escala. Nesse aspecto, porém, a abundância pode nos ter tornado perdulários e consumidores compulsivos, e o que realmente poderia fazer diferença pode se perder em meio ao cansaço da busca. O fato é que a conectividade democratiza o consumo, mas, sem que se perceba, o consumidor pode estar submetido a uma ditadura invisível.

Uma vez estabelecidas e disponibilizadas as últimas novidades da tecnologia para nos comunicarmos e mantermos o estado de interatividade total na mais alta frequência, com gigas e teras de memória e velocidade total na banda; uma vez possuidores de muito mais de um milhão de amigos e podermos cantar bem mais forte como desejava o Rei Roberto Carlos; uma vez que já não preciso ser eu mesmo para atuar no palco virtual da vida e então sou mais corajoso, Pergunta-se: por que não fazer algo realmente diferente, mas, diferente no sentido de inteligente? Resposta: porque “quem alarga os passos não caminha”, não aprende com a caminhada, queima etapas de aprendizado, se perde numa encruzilhada de múltiplas escolhas. Vive-se uma eterna sensação de insatisfação e crise de sentido.

O que Adam Smith (1723-1790) teorizou e conseguiu aplicar com a “divisão do trabalho”, em termos de produtividade em escala industrial, fez com que os trabalhadores deixassem de conhecer todo o processo de produção, perdessem a relação com o resultado final do seu trabalho, implicando em fonte de alienação, estresse e insatisfação. Os fragmentos de informação soltos no ciberespaço podem levar a uma divisão do processo de comunicação que implica nas mesmas consequências da divisão do trabalho, ou seja, alienação, estresse e insatisfação.

O ser humano sempre procurou reservar um tempo na história para desfrutar da tecnologia consolidada com o prazer de quem sai para gozar férias. O fato é que a “utilidade” e a “conveniência” nos tem feito reféns das “ferramentas” e escravos de um tempo que não temos mais.  Invertemos a nossa lógica comunicacional. Mas, e de concreto? Muito pouco (com o perdão da má expressão). O “triunfo do indivíduo” (Megatrends 2000 – John Naisbitt, 1990) nos tornou competitivos em demasia. Criados para brilhar. Porém, “quem vê por si não se ilumina” (Lao Tsé – Tão Te King). A abundância de meios de comunicação e os respectivos conteúdos não têm conseguido nem seletividade e nem profundidade. O resultado da opinião formada tende a uma superficialidade alienante.

Não tomem esta reflexão de forma pessimista e contra o mercado. Precisamos vislumbrar outras oportunidades a partir de outros pontos de vista sobre a comunicação e suas ferramentas. É somente uma reflexão. A pergunta que fica não é aonde queremos chegar, mas, se vamos chegar a algum lugar (?)

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