24 de fevereiro de 2015

O quanto valem os valores

Você já fez um levantamento de seus valores pessoais? E de seus valores de trabalho? Certamente conhece os valores da organização na qual trabalha (ou não…).

Os valores humanos já eram uma fonte de reflexão dos antigos filósofos na definição do que é bom ou no que é belo (PORTO; TAMAYO, 2003). No início do século XX, os cientistas sociais também passaram a se preocupar com esse tema e a oferecer suas contribuições. A partir daí, pesquisadores da área de Psicologia Social perceberam o papel importante desse fenômeno no processo seletivo das ações humanas, julgamentos e atitudes (ROKEACH, 1981).

Diversos são os estudos sobre os valores humanos, particularmente, sua relação com gestão organizacional. O tema tem atraído a atenção de diversos segmentos da sociedade no intuito de compreender as razões que orientam a ação humana, seja no âmbito individual ou coletivo, na esfera do trabalho ou organizacional.

 

Valores humanos

Os valores se dão no subconsciente do indivíduo, influenciando-o em suas atitudes do dia a dia de forma sutil e quase imperceptível (PAIVA et al., 2014), e podem afetar seu comportamento.

O inventário de valores de Rokeach (1973)* tem sido amplamente utilizado no trabalho empírico por psicólogos, sociólogos e profissionais de marketing. Esses valores representam preferências gerais, que relacionam os valores terminais (fins desejáveis de existência, objetivos que uma pessoa gostaria de alcançar durante a sua vida) e os valores instrumentais (modos preferidos de comportamento ou meios de alcançar os valores finais).

Segundo Schwartz (1992), valores servem como princípios orientadores da ação, de julgamentos e escolhas; eles representam conteúdos motivacionais. O pesquisador elencou dez tipos de valores motivacionais (SCHWARTZ, 1996)** que podem satisfazer as necessidades básicas – biológicas e sociais – dos indivíduos

O sistema de valores de cada indivíduo funciona como um princípio norteador do seu curso de ação preferencial. Ros (2006) complementa que os valores são crenças hierarquizadas sobre estilos de vida e forma de existência que orientam as atitudes e os comportamentos.

Hitlin e Piliavin (2004) destacam que existem pelo menos quatro conceitos que se misturam com valores: atitudes, traços, normas e necessidades, a saber:

  • As atitudes são mais aplicadas a objetos sociais concretos. Os valores são mais abstratos, focam em ideais e são mais duráveis.
  • Os traços caracterizam aspectos fixos da personalidade. Eles estão relacionados a disposições duradouras, enquanto os valores ligam-se a objetivos duradouros.
  • As normas seriam situacionais e os valores, trans-situacionais. Ambos manifestam-se como um fenômeno em nível de grupo, mas os valores são considerados, também, tipicamente no nível individual.
  • As necessidades estão mais ligadas a influências biológicas e os valores são uma característica distintiva da vida social.

 

Valores do trabalho

Os valores relativos ao trabalho dizem respeito aos motivos que levam as pessoas a trabalhar, as predisposições dos indivíduos quanto às suas carreiras profissionais. Eles dizem respeito aos fatores que são importantes para os trabalhadores no ambiente de trabalho, possibilitando aos gestores a identificação das metas importantes para seus empregados (TAMAYO, 2008). Segundo Porto e Tamayo (2003), os valores do trabalho são: realização, relações sociais, prestígio e estabilidade.

 

Valores organizacionais

No âmbito organizacional, para Tamayo e Porto (2005), os valores refletem as crenças que orientam o comportamento dos empregados, priorizando os objetivos coletivos em detrimento dos individuais. Segundo Hassan (2007), esses valores podem ser considerados como convicções e atitudes profundamente enraizadas nas práticas organizacionais que constituem um entendimento coletivo das normas e dos padrões de comportamento aceitáveis dentro da organização.

Os valores organizacionais são, portanto, guias implícitos para a ação, compartilhados pelos membros da organização e servem como base, uma direção comum, para o comportamento individual no ambiente de trabalho.

E então?

Então que os valores pessoais são capazes de guiar o comportamento humano e suas escolhas e pautam os valores do trabalho e organizacionais. Embalado por essa pincelada de estudos teóricos, que tal refletir do ponto de vista do/a:

  • Empregado/colaborador: onde e com quem quero trabalhar, os valores da organização harmonizam com os meus, o que me motiva, que tipo de reconhecimento e remuneração eu espero, o que é prioridade na minha vida?
  • Empresa/Gestor: que tipos de talentos eu busco e quais são seus valores; como devo gerenciar determinada equipe, capacitá-la, recompensá-la, motivá-la (Sim! Os indivíduos também são motivados!). Quem se identifica com a cultura da minha organização?

Percebeu como é importante atentar para a sintonia entre o sistema de valores pessoais, de trabalho e organizacionais? Os valores valem muito. Valem tempo, recursos, resultados. Valem o seu futuro (e o da organização).


(*) Inventário de valores de Rokeach  

Valores terminais: uma vida confortável, uma vida excitante, um sentimento de realização, o mundo em paz, o mundo de beleza, igualdade, segurança familiar, liberdade, felicidade, harmonia interior, amor maduro, segurança nacional, prazer, salvação, respeito próprio, reconhecimento social, amizade verdadeira, sabedoria.

Valores instrumentais: ambicioso, mente aberta, capaz, alegre, limpo, corajoso, magnânimo, honesto, imaginativo, independente, intelectual, lógico, amoroso, obediente, educado, auto controlado, sábio.

(**) Tipos motivacionais de Schwartz

Poder (prestígio social, domínio sobre recursos e pessoas), realização (êxito pessoal pela demonstração de competência), hedonismo (prazer e diversão), estimulação (novidade e variedade na vida), autodeterminação (liberdade de pensamento e de ação), universalismo (compreensão, tolerância e preocupação com o bem-estar geral e ambiental), benevolência (suporte e lealdade ao grupo próximo), tradição (respeito e aceitação de costumes e ideias culturalmente arraigados), conformidade (restrição de ação, de acordo com as normas e expectativas sociais) e segurança (estabilidade da sociedade, das relações e de si mesmo).


Referências:
GOUVEIA, V. V. La naturaleza de los valores descriptores del individualismo y del colectivismo: uma comparación intra e intercultural. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, 1998.

HASSAN, A. Human resource development and organizational values. Journal of European Industrial Training, v. 31, n. 6, p. 435 – 448, 2007.

HITLIN, S. & Piliavin, J. A. Values: Reviving a dormant concept. Annual Review of Sociology, 30, 359-393. 2004.

MEDEIROS, E. D.; GOUVEIA, V. V.; GUSMÃO, E. E. S.; MILFONT, T. L.; AQUINO, A. A. Teoria funcionalista dos valores humanos: evidências de sua adequação no contexto paraibano. Revista Administração Mackenzie, São Paulo, v. 13, n. 3, jun.  2012.  

PAIVA, K. C. M; TORRES, A. D. ; LUZ, T. R. . Valores Organizacionais e do Trabalho: um estudo em uma empresa de serviços de vigilância privada. Teoria e Pratica em Administração, v. 4, p. 96-130, 2014.

PORTO, J.; TAMAYO. Escala de Valores Relativos ao Trabalho – EVT. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 19, 2003.

ROKEACH, M. Crença, atitudes e valores: uma teoria de organização e mudança. Rio de Janeiro: Interciência. 1981

ROKEACH, M. The nature of human values. New York: Free Press, 1973.

ROS, M. Psicologia social dos valores humanos: Uma perspectiva histórica. Em M. Ros & V. V. Gouveia (Orgs.), Psicologia social dos valores humanos: Desenvolvimentos teóricos, metodológicos e aplicados (pp. 23-53), São Paulo: Editora Senac São Paulo. 2006

SCHWARTZ, S. H. Universals in the content and structure of values: Theory and

empirical tests in 20 countries. In M. Zanna (Ed.), Advances in experimental social psychology (Vol. 25, pp. 1-65). New York: Academic Press. 1992

SCHWARTZ, S. H. Value priorities and behavior: Applying a theory of integrated value systems. In C. Seligman, J. M. Olson, & M. P. Zanna (Eds.), The psychology of values: The Ontario Symposium (Vol. 8, pp. 1-24). Hillsdale, NJ: Erlbaum. 1996.

TAMAYO, A.; PORTO, J. Valores e Comportamento nas Organizações. Petrópolis: Vozes, 2005.

TAMAYO, A .Valores Organizacionais. In: Siqueira, M. (Org.). Medidas do Comportamento Organizacional. Porto Alegre: Artmed, 2008.

 

 

 

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