23 de setembro de 2019

Inovação por mais comida no prato

Imagine: ano de 2050 e somos quase 10 bilhões de pessoas no mundo. Como será esse futuro? Muitos pensam em carros voando, inteligência artificial e até mesmo viagens à Lua. Eu penso em uma única coisa, como vamos alimentar todas essas pessoas? Aprender com os erros do passado nos possibilita vislumbrar um futuro diferente, por exemplo, com menos desperdícios e produtividade agrícola cada vez mais responsável. Por isso, faz parte do meu trabalho, pensar em maneiras pelas quais o mundo pode atender à crescente demanda por proteína e, ao mesmo tempo, reduzir emissões de carbono.

É certo que hoje o Brasil é um dos principais produtores e exportadores de proteína animal do mundo, mas isso não será suficiente para alimentar as pessoas. Neste cenário, a agricultura terá papel fundamental na tentativa de erradicação da fome e da garantia da segurança alimentar, pois será responsável por toda produção de proteína vegetal do mundo. Mas, enquanto precisamos produzir em grande escala, é necessário também pensar na redução das emissões de carbono, e para isso eu elenco dois aspectos interessantes: produtividade e valor nutricional.

O primeiro está relacionado ao patamar produtivo das principais culturas que hoje alimentam a população global: soja e milho. Com base nas tecnologias atuais que são utilizadas na agricultura conseguimos alcançar o patamar máximo de produtividade dessas culturas? Deixo claro que, não! Grande exemplo disso é a soja. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), este cultivo tem alcançado média de 52 sacas por hectare. Porém, se você analisar alguns produtores mais tecnificados pelo Brasil, muitos já estão alcançando quase 80 sacas por hectare. E ainda há aqueles que participam de concursos de produtividade e conseguem atingir, em talhões específicos da fazenda, mais de 100 sacas. Porém, esta não é uma realidade uniforme em todo Brasil, já que a tecnologia disponível ao agricultor muitas vezes não é utilizada completamente.

Será que a tecnologia disponível ao agricultor está sendo utilizada de maneira correta e em sua totalidade? Novamente a resposta é não. E isso nos dá a certeza que ainda temos espaço para melhorar nossos investimentos com as tecnologias atuais.

No segundo tocante à produção de proteína: como podemos aumentar seu valor nutricional desde já? É aqui que entra a questão da biotecnologia. Não dá para imaginar uma soja com maior teor de óleo ou mais aminoácidos, sem contar com a tecnologia e inovação, como grandes aliados no combate à fome. Temos também as pesquisas em materiais geneticamente modificados vinculados, tanto aos cultivos resistentes ou tolerantes a seca e condições de estresse, como também em materiais nas quais serão inseridas características nutricionais interessantes para a população mundial.

A soja é um exemplo. Em um futuro bem próximo, ela já estará à disposição da indústria e da população – direta e indiretamente –, com mais teor de óleo e menos gordura saturada. O mesmo podemos dizer do milho, em que cientistas dos Estados Unidos encontraram uma forma de aumentar seu valor nutricional. O processo envolveu a inserção de um gene bacteriano retirado de uma proteína da carne, que faz com que ele produza metionina, um nutriente crucial para a saúde da pele, das unhas e dos cabelos. Estes são dois exemplos de como podemos entender e tratar a questão da crescente demanda por proteína para uma população que vai crescer mais de três bilhões de pessoas em quase 30 anos.

Ao usar todas as tecnologias disponíveis para o campo, agricultores poderão otimizar a gestão de negócios, economizar tempo, reduzir custos, aumentar rendimentos, usar recursos do planeta de forma mais eficiente, sustentável e consciente, como os hídricos, e principalmente, emitir menos carbono na natureza. Cada vez que as empresas lançam soluções mais modernas, a biotecnologia, aliada à digitalização do campo, faz com que as entradas de maquinários na lavoura, por exemplo, sejam cada vez mais assertivas.

Junto às tecnologias, temos que pensar na redução das emissões e dar subsídio para o agricultor ter um produto com maior efeito residual, permitindo reduzir o número de aplicações, e que tenha na semente parte da inovação química embutida para diminuir a entrada de pulverização. É responsabilidade de todas as empresas desenvolver soluções que aliem máxima produtividade com menos emissões de carbono na natureza.

Máxima produtividade significa mais comida no prato. No mundo todo há mais de um bilhão de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e no Brasil são quase 40 milhões sem acesso à alimentação diária. Fornecer uma solução para isso é responsabilidade das empresas de pesquisa e desenvolvimento, entidades e da cadeia como um todo. Para se ter ideia, dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, oito ou nove só serão resolvidos se endereçados por meio da agricultura, sendo a erradicação da fome o mais importante deles.

Com essa responsabilidade a cargo do campo, como vamos alimentar um planeta faminto? A resposta não é fácil. Isso passa por fenômenos naturais e uma série de fatores que afetam o nosso planeta. No entanto, sei que a responsabilidade é de todos nós.

Quando falamos em perdas alimentares no Brasil, é importante dizer que 20% de tudo que se produz é perdido. Outro dado alarmante é que 40% destes 20% se perdem nos grandes centros, ou seja, pela falta de planejamento em entrepostos e pelo próprio consumidor. No Brasil, comer bem é sinônimo de fartura e prato cheio, induzindo que a quantidade de alimento desperdiçado em uma refeição seja enorme. A pergunta aqui é: imagina se boa parte do que está excedendo no prato fosse destinada a quem precisa?

Dentro da Bayer minha responsabilidade é trabalhar na pesquisa, propondo novos rumos para o campo, por isso acredito que a agricultura moderna certamente não será a que conhecemos hoje. A nova geração pensa e atua diferente. Ela não se contenta com as soluções disponíveis, e exige mais, sempre mais, especialmente no que tange a sustentabilidade. Os novos pensadores do agro querem uma agricultura com menor consumo de água, mais proteção da terra, menos compactação do solo, direitos iguais para as pessoas que trabalham no campo, mais produtividade. Esta é uma exigência cada vez maior, um caminho sem volta. E isso é ótimo.

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