15 de março de 2012

Comunicadores como alquimistas

Vivemos todos os dias uma explosão de sentimentos que dificilmente conseguimos transformar em representação vocabular fiel. Dizer não é ser, tampouco sentir. Mas sentir é mais importante. Os dizeres definem, cristalizam, destroem a magia do sentir e dificultam a evolutiva transformação do mundo. A natureza é mutável, assim como o ser humano e seus sentimentos. Como comunicadores, precisamos de uma alquimia diária que permita que mensagens transcendam a solidez das palavras e catalisem os sentimentos em mensagens transformadoras. 

Por mais que tenhamos esta tendência em “palavrificar” tudo ao nosso redor, não vivemos em um mundo sólido e estruturado. Por mais que quiséssemos destruir os sentires e frear as suas constantes mudanças, não conseguiríamos. É difícil encontrar as palavras que traduzam este contexto fluido e dinâmico. Tudo muda muito rápido e quando conseguimos definir e explicar algo, em um piscar de olhos, este algo já mudou e sentimos a necessidade de redefinição.

Ficamos cansados, ansiosos, incertos. Há muita informação, muita pressão por resultado e pouco sentido nisso tudo. As pessoas buscam as sessões dos livros de autoajuda, ficam estressadas, deprimidas, angustiadas. Reverter esta angústia é um processo que está na mudança de consciência. O mundo se transforma com sentidos e significados, não com meras definições. E nossa consciência deve mudar com ele, independente dos dizeres, que cristalizam o pensamento e nos param no tempo.

Essa mudança de consciência é o que busca um alquimista. Entender a linguagem do mundo, que é diversa a essa linguagem saturada de definições efêmeras que já agonizam ao nascer. Trabalhar e aperfeiçoar as mentes e os corações através da linguagem da natureza e não das palavras excessivas, sem sentido. Para eles, entender a linguagem do mundo é observá-la até o ponto de esta tocar a sua sensibilidade e produzir algo que os eleve, que os transforme. Transformados, eles podem transformar a matéria. E o mundo.

Entender a linguagem do mundo é também o que deve buscar um comunicador. Encontrar os valores, as sensibilidades e os conhecimentos que poderão transformar a si próprios. Transformados, podem transformar as pessoas e suas consciências – há muito cristalizadas com dizeres.

Comunicar é transformar. Não é ser mera emissão e recepção de dados. Mera informação. Comunicação é mudança de consciência. Conhecer, criar e produzir – menos palavras e informações e mais sentidos e significados. Afetar, provocar, instigar – causar mudança de consciência.

A mudança da matéria é para os alquimistas "A Grande Obra". Esta é dividida em duas partes: uma parte sólida, que seria a pedra filosofal – capaz de causar a transmutação dos metais inferiores ao ouro- e uma parte líquida, o elixir da vida – um remédio que curaria todas as mazelas e daria vida longa àqueles que o ingerissem. A ideia da transformação da matéria, de metais em ouro, acredita-se que seja uma metáfora sobre a mudança de consciência. A pedra seria a mente inábil que é transformada em "ouro", ou seja, em conhecimento. A valiosa sabedoria para transformar a si próprio e ao mundo.

Essa também deve ser "A Grande Obra" dos comunicadores. Provocar mudança de consciência. Atingir a valiosa sabedoria para transformar a si próprio e ao mundo. Transformar as pedras como as palavras excessivas, as meras informações cristalizadas nas mentes das pessoas – em “ouro”, algo valioso como o sentido, a comunicação e o conhecimento. O valor da comunicação está justamente quando se toca a sensibilidade e se provoca uma reflexão nas pessoas. Uma reflexão que cause uma mudança de vida, que faça sentido no interior de cada indivíduo sensibilizado. Cause brilho nos olhos e vontade de agir, de se envolver.

A comunicação deve trazer impactos nas pessoas sobre a sua maneira de estar no mundo. É um estímulo intencionado para mudar o outro e suas atitudes, para que se elevem e se envolvam. Comunicar é afetar momentaneamente para criar e produzir uma ação, fazendo com que algo que não existisse passasse a existir na pessoa que foi transformada. Tocar a sensibilidade das pessoas através de narrativas, que dão sentido as palavras e as convertam em mensagens transformadoras.

Definições geram atitudes definitivas. Comunicações geram atitudes transformativas. Não se trata de “palavrificar” o mundo, mas de dar sentido a ele através da alquimia comunicativa, da mistura de cultura, desejos e objetivos, mensagem e forma, arte e criatividade para a produção de narrativas e sentidos. Mistura que poderá proporcionar também o elixir da vida, a longevidade do afeto à empresa/marca comunicada.

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