19 de agosto de 2016

Barreiras Culturais, Inovação e Futuro Exponencial (parte 2) – Respostas e conceitos

Continuação da primeira parte do artigo, que se encontra neste link.

Felipe Chibas_parte 2 - 08.16

Vem à minha mente a história verídica de uma empresa brasileira e outra argentina que se uniram para funcionar juntas. Estavam já acertados todos os termos do acordo financeiro e os diretivos de ambas as empresas começaram a trabalhar uma vez por mês no país do outro. Assim, os argentinos passavam uma semana em São Paulo e os brasileiros, uma semana em Buenos Aires. Com a proximidade, começaram a ser levantadas diferenças pontuais na forma de enxergar a empresa e de se trabalhar nela, segundo a origem dos envolvidos. Os argentinos desejavam trabalhar um pouco menos no fim de semana e conhecer e aproveitar São Paulo na semana em que visitavam a cidade, enquanto os paulistas colocavam que só tinham uma semana para muitas tarefas e queriam ter jornadas de 16 horas durante esses dias. Os portenhos desejavam diminuir custos e por isso queriam que os funcionários da indústria e do escritório trabalhassem num único prédio, enquanto os brasileiros insistiam que deviam estar em prédios separados por uma questão de hierarquia. Essas e outras diferenças culturais fizeram com que, finalmente, ambas as partes concordaram em desfazer um negócio que financeiramente era vantajoso para as duas empresas.

Este tópico, com a expansão das novas tecnologias da comunicação e em específico da rede mundial de computadores, passa a ser praticamente o problema de todas as empresas, dado que seus clientes e públicos não estão mais circunscritos aos próximos geograficamente, senão a todos com os quais interagem também via web, seja pelo seu site ou redes sociais que utiliza.

Entende-se por barreiras culturais à comunicação o conjunto de fatores, de ordem simbólica ou concreta, que vai além das diferenças idiomáticas e que pode dificultar a comunicação entre pessoas ou organizações de diferentes etnias, valores, países, povos, regiões ou culturas. Conceitualizar estes fatores tem ajudado na compreensão, prevenção e tratamento de conflitos.

As barreiras culturais à comunicação que foram mais estudadas são as de Etnocentrismo (valorização extrema da origem do país ou estado no qual nasceu), Tendência ao individualismo/coletivismo (valorização extrema do pensamento e bem-estar individual), Distância hierárquica (valorização excessiva dos cargos e hierarquia organizacional), Controle de incertezas (tendência a tentar planejar e controlar os fatos e a incerteza vs. deixar acontecer), Sexismo (tendência a valorizar mais o fator masculinidade em detrimento da feminilidade ou a homossexualidade), Sensualismo (explícita ou implícita valorização de um belo corpo como fator de sucesso), Religiocentrismo (achar que só a minha religião está certa e as demais erradas), Tendência à internalidade/externalidade (pensar que a causa do sucesso ou insucesso é interna e está em mim vs. a achar que a causa do sucesso é externa ou nos outros), Tendência a supervalorizar o urbano ou o rural (ter uma origem urbana é melhor que ter nascido num ambiente rural), Relação distorcida com a ética (tendência a ter um respeito rígido pelas regras vs. tendência a não respeitar as regras), Tendência a supervalorizar ou a não valorizar a idade (ter mais idade é melhor que ter menos vs. ter menos idade é melhor que ter mais), Adoção de estilos de comunicação autocráticos ou excessivamente laisser faire (tendência a tomar todas as decisões autoritariamente vs. deixar a equipe tomar as decisões e o líder deixar fazer tudo o que a equipe quiser), Tendência ao imediato versus tendência ao mediato (querer os resultados imediatamente e não a longo prazo).

Em pesquisa realizada por Chibás Ortiz em 2005 com redes hoteleiras atuantes no Brasil, de alcance nacional e internacional, sendo estas organizações de origem norte-americana, francesa, mexicana e brasileira, observou-se que mesmo que todas as redes estudadas tivessem mais ou menos a mesma quantidade de barreiras culturais à comunicação, os graus, perfil ou tipo de barreiras culturais presentes, assim como de conflito cultural existente e sua forma de tentar solucioná-lo criativamente, era diferente para cada empresa estudada, segundo sua cultura nacional de origem.

Percebeu-se a existência de ampla gama de conflitos de origem cultural, que abarca desde a forma de gerenciar os recursos materiais e humanos até a forma de atender aos clientes e se projetar no mercado. As diferenças, resistências e barreiras culturais observadas se expressam na comunicação verbal e escrita e também na não verbal, através das músicas que são colocadas, de fotografias e logomarcas, sites, design, do desenho e cores dos uniformes, das bebidas e alimentos que são oferecidos e do tipo de acolhida corporal, diferentes em cada caso.

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