16 de novembro de 2016

5 Lições de Comunicação do seriado The Crown, do Netflix

Há  alguns anos eu mudei meu hábito de leitura de resenhas. Como consumidora de livros, filmes, séries e outras formas de arte e espetáculos, eu sempre busco obras que me deixam sem ar por alguns minutos. É isso que me atrai: o deslumbramento e até um sentimento de ignorância e pequenez (meu!) em relação ao mundo. Por isso, aposto no elemento surpresa e, dependendo do grau de envolvimento e impacto pós-exibição, busco mais informações e visões para ampliar meu repertório sobre um determinado tema.

Considerei essa introdução importante para explicar que não exponho nesse texto nenhum spoiler. Não descrevo cenas nem revelo segredos. O objetivo foi, com a lente de comunicadora, tirar lições de uma história que, no fundo, já é amplamente conhecida.

Assim, entre tantos atrativos em The Crown, ouso apontar cinco questões ligadas à Comunicação e a dilemas que o tempo e também a História, com H maiúsculo, não apagaram.

Mulheres na Liderança: Elizabeth II não é a primeira soberana britânica, mas foi alçada a uma posição de liderança muito cedo e teve obviamente que lidar com elementos que ainda são comuns às mulheres de hoje (com ou sem sangue azul). Entre eles estão insegurança, capacitação e posicionamento em um ambiente majoritariamente masculino e mais sênior. Ela também teve (se é que ainda não o tem) que aprender a conciliar todos os papéis da sua vida – mulher, mãe, esposa, filha, irmã, rainha. É possível ampliar até mais o escopo e aproveitar o seriado para refletir sobre coerência, que não é um atributo ou valor, mas um comportamento fundamental para qualquer executivo, independente do gênero, interessado em garantir um futuro sustentável para si e para a sua empresa.

Qual é a sua Voz?  No Episódio 8, é atribuída à Princesa Margareth a função de participar e discursar em um evento. Ela tem em mãos um desafio muito similar ao de qualquer executivo: como imprimir o seu jeito de ser, sem ferir as políticas e valores da empresa e ainda agradar e agregar ao público presente. Foi-se o tempo em que os executivos e personalidades públicas podiam se esconder atrás das marcas – aliás, no mundo digital em que vivemos, eu arriscaria dizer que ninguém mais tem esse privilégio. Mais do que bajulação, o público, qualquer que seja ele, quer autenticidade, informação e entretenimento em uma dose única. Vale observar o conflito e a solução da Princesa. Vale também observar que, no mundo atual, este desafio vem aquecendo outro filão do mercado de comunicação. As conferências TED despertaram desejo, mas foi a campanha eleitoral americana que colocou os speechwriters (escritores de discurso, em tradução livre) sob os holofotes. Assim como os ghostwriters, esses especialistas têm a missão de captar e dar voz às pessoas, suportando-as em seus sonhos ou objetivos de negócios. É a carreira da vez até no Vale do Silício.

Liderança – Um dos storytellers mais brilhantes da história, Winston Churchill é obviamente um dos personagens centrais de The Crown. Interpretado pelo norte-americano John Lithgow, o Primeiro-Ministro Britânico mostra as várias facetas de um líder: as pressões que sofre, os dilemas que enfrenta e, ainda, a persuasão e até a dissimulação para se desvencilhar das situações. Churchill dizia que o preço da grandeza é a responsabilidade e talvez, por isso, ele investia muito tempo no planejamento e no treinamento de todos os seus passos. É sabido que ele buscava se antecipar às perguntas e que até as tiradas típicas do humor britânico eram ensaiadas. Seus discursos eram inflamados de emoção, sempre evocando valores universais e injetando esperança no futuro. Autor de mais de 20 livros, Churchill foi também o único Primeiro-Ministro Britânico a receber, em 1953, o Prêmio Nobel de Literatura, por “seu domínio de descrição histórica e biográfica, bem como por sua brilhante oratória na defesa de valores humanos”.

PR – Os britânicos sempre foram benchmarking em Public Relations e The Crown demonstra bem a evolução dessa indústria. Pegue como exemplo o casamento e a coroação de Elizabeth II, retratados na série do Netflix, e compare-os a um acontecimento mais recente, o casamento do Príncipe William com Kate Middleton, em 2011. Além da transmissão ao vivo da cerimônia, o time de PR da Família Real estendeu o momento por muitos meses. Uma exposição foi montada dentro do Palácio Buckingham para apresentar detalhes, como o vestido de noiva e uma réplica do bolo de casamento, para súditos do mundo inteiro. Note como era feita a divulgação de informações na época de The Crown e como o é hoje, seja por meio da imprensa ou dos canais oficiais nas redes sociais.

A História – É a essência de The Crown e, obviamente, de tudo! O seriado é um prato cheio (e refinado!) para quem tem interesse por Storytelling. Os desafios do Netflix enfileiravam-se. Um deles também é bem comum ao dia a dia das empresas, instituições e profissionais. Como instigam os mestres Rodrigo Cogo, Martha Medeiros, Fernando Palacios e Martha Terenzzo, como é possível atrair e reter a atenção de peixe dourado da audiência frente a um número cada vez maior de estímulos por minuto?  Em The Crown, há ainda a tarefa de fundir história com entretenimento, tomando o cuidado de tratar fatos que estão registrados em livros. Alguns deles são conhecidos amplamente pelos britânicos; outros são parte do ensino fundamental no Brasil e no mundo todo.
Finalmente, é impossível esquecer que a personagem central retrata a vida de uma rainha viva.

Lançada em 4 de novembro, a Jornada do Herói de Elizabeth II está só começando na tela do Netflix. Os 10 episódios aguçam o interesse por uma segunda temporada, que aparentemente já está confirmada. Eu mal posso esperar.

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